Belas Famílias

Belas Famílias

Por | 2016-10-03T14:59:41-03:00 3 de outubro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Belas Famílias (Belles Familles) (Comédia/Drama/Romance); Elenco: Mathieu Amalric, Marine Vactch, Gilles Lellouche, Andre Dussollier; Direção: Jean-Paul Rappeneau; França, 2015. 113 Min.

O cineasta francês Jean-Paul Rappeneau está de volta ao circuito, depois de mais de uma década (desde “Viagem ao Coração”, 2003) com um longa-metragem que versa sobre o cotidiano familiar, seus segredos, suas relações e suas complexas conexões. Estrelado por Mathieu Amalric o filme é confuso numa metáfora condizente com a instituição familiar. Mas, mais do que isso, é ancorado nos instintos humanos e sua busca sem limites por felicidade e no não reconhecimento das regras e normas sociais, que na verdade são muros e cercas para a realização dos intentos da alma.

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Jerôme Varenne (Mathieu Amalric) é um operador do mercado financeiro residente na china e casado com Chen-lin (Gemma Chan). Num determinado momento vai a Paris ver a família e lá se depara com um dilema: a venda da casa da sua infância e uma questão burocrática com a prefeitura. Ao tentar resolver a questão fica sabendo de outras querelas familiares – a segunda família do pai já falecido, os envolvimentos escusos de  seu irmão nos negócios, os segredos de sua mãe –  e até se vê diante de um novo amor. Jean-Paul Rappeneau e Jacques Fieschi de “Yves Saint Laurent” (2014), que idealizaram a história, conseguem mostrar como o movimento da vida não respeita nossas barreiras fossilizadas de regras e normas sociais, sem serem ofensivos. Mas o fazem de forma confusa, misturada, embalada no cotidiano e seu devir sem explicações e com  incertezas que só se encaixam no final, como na vida.

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A direção de Jean-Paul Rappeneau é de costuras de histórias diferentes que vão se esbarrando e acabam tendo mais conexões do que se supunha. (ele dá chega-pra-lá no acaso). A fotografia de Thierry Arbogast de “Lucy” (2014) é romântica e iluminada. A trilha sonora de Martin Rappeneau (filho de Jean-Paul) é uma analogia de antagonismo com a orquestra da vida. Enquanto uma é organizada e límpida como uma execução harmônica, a outra é bagunçada e se impõe desarrumando tudo. O mesmo se pode dizer dos usos dos idiomas (inglês, francês e chinês), uma verdadeira babel. A falta de lastro entre o ‘certo’ e o ‘errado’ o que a sociedade diz que traz felicidade e o que, de fato, a traz são o ponto forte do roteiro. A questão é se ficou bem abordado, se as circunstâncias e questões foram bem costuradas para dar a entender isso de forma mais geral. A velha questão da transmissão num suporte imagético.

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Por conta disso as atuações de dois bons atores,  Mathieu Amalric de “A pele de Vênus” (2013) e de Marine Vacth de “Jovem e Bela” (2013) em alguns momentos são dissonantes e soam artificiais, quase que teatrais. Mas, ainda tem Gilles Lellouche de “A Conexão Francesa” (2015) e Andre Dussolier de “Diplomacia” (2014) para salvarem a lavoura. Como bom filme francês, fala mais nos seus silêncios do que, propriamente, em seus diálogos, e com a abordagem de Rappeneau o filme ficou uma obra tão intrigante e nonsense como toda família é. Logo, é uma boa oportunidade para questionar a instituição e suas hipocrisias. E talvez, tenha sido esse o objetivo, mostrar o quanto a vida se impõe. No conjunto, a história tem um desfecho satisfatório e até certo ponto diverte.

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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