Boa Sorte. (Drama); Elenco: Deborah Secco, João Pedro Zappa, Fernanda Montenegro, Cassia Kis Magro, Felipe Camargo; Diretora: Carolina Jabor. Brasil, 2014. 90 Min.
Em um momento em que cresce o número de jovens que consomem drogas lícitas, o conto de Jorge Furtado, “Frontal com Fanta”, que aborda a temática, veio a calhar para a cineasta Carolina Jabor, que procurava um tema atual e contemporâneo para abordar em um filme de ficção.
“Alguém te ama?”
O filme “Boa Sorte” é uma crítica suave, e sem pretensões moralistas, ao consumo de drogas lícitas por adolescentes e jovens e passa raspando na temática da loucura x sanidade. Regado ao argumento de que, o que falta, na verdade, é afeto e amor. Ambientado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos, onde Judite (Deborah Secco) e João (João Pedro Zappa) se encontram. Ela, por consumo de drogas ilícitas e paciente terminal soropositiva, e ele por consumo de drogas lícitas. O filme pontua o poder do afeto, usando uma linguagem jovem, e conversando com os adolescentes através dos diálogos, da música, da animação e da poesia.
“Eu já fiquei invisível”
Carolina Jabor, que vem do documentário “O mistério do samba” (2008) tem em “Boa Sorte” seu primeiro longa de ficção, que já recebeu o prêmio de melhor filme (júri popular) e melhor direção de arte no Festival de Paulínea (2014). Deborah Secco, conhecida pelos personagens, cuja entrega como atriz surpreende, como “Bruna Surfistinha”, por exemplo, dá um show de interpretação e assertividade com Judite. Já João Pedro Zappa vem de curtas e séries de TV e tem no currículo “Éden” (2013) de Bruno Safadi que abocanhou dois kikitos de ouro no festival de Gramado (2013). E ainda tem a participação de Fernanda Montenegro no papel de Célia, a avó de Judite, numa atuação impagável, para variar.
“A mente quer ser Deus, o corpo bicho.”
O roteiro é uma adaptação de um conto de Jorge Furtado e foi escrito a quatro mãos com seu filho, Pedro Furtado. A fotografia é básica e objetiva, contrasta as cores fortes com o cinza do contexto e foca no necessário para enaltecer a história, quem assina é Bárbara Alvarez. Na trilha sonora original o investimento é nos silêncios, nas entrelinhas bordadas por Lucas Marcier e Fabiano Krieger, mas também conta com um Rock and Roll da Pitty e algumas músicas de Jorge Mautner, dentre elas, “O vampiro”.
“Quando a morte me encontrar, ela vai me encontrar viva…a maioria das pessoas apenas existe”
“Boa Sorte” é uma produção nacional de baixo orçamento e que tem qualidade técnica e contextual. Com muito pouco se fez o suficiente. Tem muita poesia e vida, e fala da invisibilidade a partir da premissa atenção, do amor como prova de existência. Não é depressivo, nem baixo astral e trata da noção de finitude com resignação, e da vida como algo com força própria que não pode ser controlada, desconstrói a noção de perfeição e investe no conceito de não-julgamento. É uma boa pedida, e não é só para jovens, é para todo mundo que se disponha a dar atenção ao enaltecimento das coisas simples, e um bom caldo de reflexões.
“Tem vários tipos de amor. Qual você quer?”
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