Boi Neon

Por | 2015-10-06T13:00:00-03:00 6 de outubro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Boi Neon. (Drama). Elenco: Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Josinaldo Alves, Alyne Santana, Samya de Lavor; Direção: Gabriel Mascaro; Brasil, Uruguai/Holanda, 2015. 101 Min. #FestivalDoRio2015

Depois de chamar atenção e causar burburinho por onde passa, “Boi Neon” é exibido no Festival do Rio na competitiva nacional concorrendo ao troféu Redentor*, a estatueta que é o  centro das atenções do evento. O  longa traz como tema o homem das vaquejadas, o nordeste que prospera, o paradoxo homem selvagem/homem polido – civilizado- e  o lugar em comum desses dois que é um só.

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Iremar (juliano Cazarré), Galega (Maeve Jinkings) fazem parte de um grupo que transporta gado para vaquejadas, e nesse ínterim vivem suas vidas, proseando e administrando oportunidades, num cotidiano camponês que se resume a cuidar do gado. O filme não traz uma história específica, mas um mapeamento do cotidiano desses homens de forma ficcional, com seus costumes, suas conversas e  sonhos. Mas, muito principalmente, o registro do entre-lugar em que reside o homem selvagem e o homem civilizado, e nesse aspecto nos remete a “Baixio das Bestas” (2006). É uma espécie de compêndio do nosso lado bicho com muita poesia e uma fotografia belíssima assinada por Diego Garcia.

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O contexto é o nordeste visto de um outro lugar. Não é o nordeste da seca, nem o da pobreza e da vontade de ir embora, mas o da criação de gado, das vaquejadas, dos grandes leilões de crias que valem milhões e seus trabalhadores rurais, sua labuta e sua vontade de ficar. Imiscuido a tudo isso existem analogias que caminham paralelas, o boi neon pode ser uma metáfora para  o bicho/homem xucro, mas com uma fina camada de sensibilidade, de contextualização com a civilização, com um pé na contemporaneidade; a crueldade (presente nas vaquejadas e mostrada incessantemente) é posta em contraponto com a necessidade de afeto. a  de pai de Cacá (Alyne Santana), e a  que se estende a outros afetos e às demais pessoas; o exercício bicho, pra lá de naturalizado, e a civilização é metaforizado no perfume, na costura, na digitalização de uma imagem para um cartão de visitas, é ali um espaço de contato fortuito e afastamento. Gabriel Mascaro de “Ventos de agosto” (2013), que dirigiu e roteirizou o longa. recebeu menção honrosa no Festival de Toronto e prêmio especial do júri no Festival de  Veneza.

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“Boi Neon” é uma co-produção do Brasil com o Uruguai e com a Holanda, cuja maestria está na mostragem do cotidiano do homem do campo e o quanto é natural ser bicho e o quanto é complementar ser homem (ser  humano), mapeando encontros e afastamentos. É o cinema pernambucano batendo um bolão no cinema nacional e mundo afora. Encantador!

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  • Festival do Rio 2015 – Mostra Première Brasil: Competição Longa Ficção
  • *Boi Neon foi o grande vencedor do Festival do Rio 2015, com os prêmios de melhor filme, melhor roteiro, melhor fotografia e melhor atriz coadjuvante. (atualizado em 15/01/2016)

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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