Börg vs McEnroe (Biografia/Drama/Esporte); Elenco: Sverrir Gudnason, Shia LaBeouf, Stellan Skarsgaard; Direção: Janus Metz; Suécia/Dinamarca/Finlândia, 2017. 107 Min.
Existem filmes que situam-se em nichos específicos, e abordam, em detalhes, as especificidades pertencentes a seu contexto e, mesmo assim, conseguem abranger até quem não entende de suas questões com competência. Talvez, o segredo seja escolher um viés que seja comum aos pobres mortais e ir aprofundando o assunto em doses homeopáticas. Foi assim em “O Capital” (2012) de Costa-Gavras em que, o cineasta consegue colocar o espectador diante de um gráfico de mensuração de valorização/desvalorização de ações do mercado financeiro, apreensivo como se tivesse assistindo a uma partida de futebol. É assim, no filme de Janus Metz em que, se sabendo do resultado da partida de tênis de Wimbledon de 1980 entre Börg e McEnroe, todos ficam sob tensão mesmo que não entenda nada de uma partida de tênis. O segredo, talvez seja, o que temos em comum em nossos cotidianos. Em “O Capital”, a ambição; em “Börg vs McEnroe”, a competitividade. Na quadra de tênis do longa-metragem dirigido por Metz estão digladiando a inteligência emocional o naturalismo cru das emoções, o “Iceborg” contra o “pavio curto”.
A história abarca a infância, a juventude e a final de Wimbledon de 1980 em que, a sagração do nº1 do tênis mundial estava em jogo. Para Börg pela quinta vez, para McEnroe, pela primeira vez. Não é segredo algum ou spoiler que aqui se conta a história de dois ídolos do tênis mundial: Björn Börg, pentacampeão de Wimbledon e hexacampeão do torneio de Roland-Garros, conhecido como “IceBorg” pela sua frieza e autocontrole; e John McEnroe, também campeão mundial e por algum tempo o nº 1 do esporte, vencedor de vários campeonatos mas, mais conhecido pelo seu comportamento temperamental que renderam algumas raquetes quebradas, uma expulsão de quadra e a perda gratuita de um dos campeonatos que disputou. Os atores que interpretaram esses dois gladiadores da era moderna foram o sueco Sverrir Gudnason de “O Círculo” (2015) e o americano Shia Labeouf de “Ninfomaníaca” (2013). Com Sverrir o que surpreende é sua semelhança com o próprio Börg, e em Labeouf sua interpretação visceral da personalidade de McEnroe.
“Börg vs McEnroe” de Janus Metz é um painel de confronto de diferentes inteligências emocionais e foi indicado ao Camerimage (o Oscar da fotografia) pelo trabalho sensacional de Niels Thastum, vencedor do prêmio com o filme “Nas Dyrene Drommer” (2014), um filme de terror e suspense dinamarquês muito competente. Outro destaque vai para a edição de Per K. Kirkegaard de “E Agora?! Roubei um Rembrandt” (2003) e Per Sandholt de “Terra Minas” (2015). Sem o trabalho dos dois o filme não teria a mesma tensão. Tudo isso sob a batuta de Janus Metz do documentário “Armadillo” (2010) onde acompanha durante seis meses um grupo de soldados dinamarqueses na guerra do afeganistão; e do roteirista Ronnie Sandahl do premiado “SvenskJävel” (2014).
Em suma, “Börg vs McEnroe” se assemelha a “Rush: No Limite da Emoção” (2013) que consegue falar de um nicho muito específico mas abarca o grande público com maestria. Ao contrário do que pode insinuar o título e os cartazes de divulgação, não é para entendidos em tênis, é para qualquer ser humano que já descobriu que tem-se que ter controle emocional para conquistar algum espaço neste mundo insano. Ou seja, o longa é caviar que serve bem a quem consome atum.
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