Caça-Fantasmas

Caça-Fantasmas

Por | 2018-06-17T00:26:29-03:00 21 de julho de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Caça-fantasmas (Ghostbusters) (Comédia/Fantasia/Ficção-científica); Elenco: Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Kate McKinnon, Leslie Jones, Chris Hemsworth; Direção: Paul feig; USA, 2016. 116 Min.

Releitura da versão de 1984 dirigido por Paul Feig e roteirizado por ele e por Katie Dippold, “Caça-fantasmas” é uma versão feminina do que se propõe a ser um besteirol/zoação cheio de referências cinematográficas sobre paranormalidade.  Com uma leve camada de criticismo sobre misoginia, racismo e hipocrisia social e uma grata homenagem a versão original com participações de todo o elenco principal, o longa é pura diversão. Principalmente para a geração que viu o o primeiro filme na época de sua exibição.

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Quatro mulheres que contemplam a diversidade feminina nos aspectos estéticos e no da sexualidade. Três cientistas rejeitadas pelo modelo de  ciência tradicional que decidem se juntar para trabalhar no que acreditam. Engenheiras nucleares sem vida afetiva que decidem procurar fantasmas pela cidade de Manhattan, no melhor estilo “Assombrações” de um canal de TV fechada e remontando “Amityville”,  encontram fantasmas que sofreram nas gerações passadas, quando a cidade era um povoado, e que desejam vingança por todas as atrocidades sofridas e só esperam pelo seu líder, um grande traumatizado por Bullyng, para o dia do apocalipse. Nesse contexto  entram as meninas Erin (Kristen Wiig); Abby (Melissa McCarthy), Julian (Kate Mckinnon) e Patty (Leslie Jones) com seus procedimentos atrapalhados para livrar os ambientes de seus incômodos visitantes.

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Com esse roteiro clichezão, o longa metragem de Paul Feig faz uma homenagem ao filme original  e nos leva para os idos da década de 80 tanto quanto “Pixels“. Primeiro, por cativar os espectadores que viram o filme original, ativando os nós da rede de significações e produção de sentido que só quem viveu a época pode acessar. Segundo, por fazer uma releitura crítica, mostrando o avesso de tudo o que hoje não é mais politicamente correto. O longa-metragem original era composto, em seu elenco principal, por homens, esse o é por mulheres; a secretária era uma mulher, nesse é um homem, Kevin (Chris Hemsworth), bobo, atrapalhado e sexualmente objetificado, como é a visão da sociedade em relação as mulheres. Contempla os diferentes tipos femininos: uma ruiva, uma morena, uma loura e uma negra. E traz aspectos de liberdade do exercício da sexualidade, sem ser sensualizado, através da caricatura, de forma inteligente. Aliás,  mais caricato impossível, o vilão é caricato, as criaturas fantasmagóricas também.

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Isso não torna o filme uma obra ruim, pelo contrário, o maluco beleza do Paul Feig, conhecido por sua abordagem satírica e sua zoação de aspectos do cotidiano, como “A Espiã que Sabia de Menos” (2015) e “Missão Madrinha de Casamento” (2011), fez um trabalho primoroso quando se propôs a fazer um pastelão assumido, que não se leva a sério e sem a menor pretensão de ser algo mais, Mas, simplesmente, divertir. E de quebra, ainda abre brechas para tiradas críticas sobre machismo, misoginia, racismo e sobre a retórica política vazia da manipulação de massa. Traz, ainda, os homens como desengonçados, pouco inteligentes e um bom produto para consumo feminino. Outros aspectos são o respeito ao filme de origem, pela manutenção do arcabouço da história, com participações especiais de todo o elenco principal do longa original: Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e  Sigourney Weaver, e  um desfile de celebridades como Ozzy Osbourne, Andy Garcia e Charles Dance.

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E tudo isso tem uma explicação plausível para além de ganhar o vil metal. A versão original de “Ghostbusters” (1984), ao contrário de outros Blockbusters deixou um pequeno legado. O filme além de ter tido uma continuação, a de 1989, ganhou duas séries de animação: “The Real Ghostbusters” e “Extreme Ghostbusters” ; virou peça de teatro ( o caminho inverso) e foi rankeado como uma das melhores comédias de todos os tempos pelas mídias e instituições:  Total Film; American Film Institute; IGN ( Imagine Games Network)  e o canal de televisão americano Bravo! A obra-prima enlatada dirigida por Ivan Reitman e roteirizada por Dan Aykroyd e Harold Ramis fez história em seu gênero para uma geração de Nerd primitiva que habitava os idos da década de 80. Logo não é de se surpreender que causasse alguma polêmica pela forma ousada de “Upgrade” a que o irreverente Paul Feig a submeteu. Por conta desse trabalho foi indicado ao Teen Choice Awards 2016, pois apesar de bem temperado teve o cuidado de não cair na vulgaridade. (O Teen Choice é composto de filmes voltados para o público adolescente)

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Tecnicamente, fez bonito com a fotografia de Robert D. Yeoman de “O Grande Hotel Budapeste” (2014) pelo qual foi indicado ao Oscar e a trilha sonora de Theodore Shapiro de “O Diabo Veste Prada” (2006). A visita aos filmes “O Exorcista”(1973), ao curta metragem “Thriller” (1983), a “Poltergeist” (1982) e as referências a vários filmes sobre fantasmas e paranormalidade como “Ghost: Do Outro Lado da Vida” (1990) dão recheio a obra de Feig, além do time das piadas.

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Ghostbusters” de 2016 é um produto fast-food , besteirol assumido e que diverte muito. Faz voltar no tempo e contextualiza-se com os dias atuais sem se descaracterizar. As gargalhadas valem o ingresso…até porque nem só de filme-cabeça vive o espectador e como os tempos são outros, estamos na era em que Blockbuster também tem clássico. Durmamos com esse barulho.

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Relembre  a versão original (Aqui!)

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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