Cake: Uma Razão para Viver (Cake). (Drama); Elenco: Jennifer Aniston , Adriana Barraza, Anna Kendrick, Sam Worthington, Felicity Huffman, William Macy; Direção: Daniel Barnz; EUA. 2014. 102 Min.
Diz-se do vinho que quanto mais velho melhor. Diz-se dos maduros, que conseguem desenvolver suas potencialidades, que são como os vinhos. Essa premissa pode se aplicar, em gênero, número e grau, a atuação de Jennifer Aniston em “Cake – Uma Razão para Viver”.
Mais conhecida pelo seriado “Friends”, uma das séries mais populares de todos os tempos e afeita a comédias (“Marley e Eu”, “Todo Poderoso”, dentre outras), com “Cake” (no original) Jennifer Aniston se aventura pela seara do drama no papel de Claire Bennett, uma defensora pública bem sucedida que perdeu o filho num acidente de carro, ganhou uns pinos na perna, uma profunda dor na alma e outra crônica no corpo todo. Por conta disso frequenta um grupo de terapia para aprender a lidar com a dor. Mas, o caso de Claire vai além disso, ela é dura, fria, racional e pesada. O desenvolvimento da personagem não é vitimista, não suscita pena, nem misericórdia e muito menos compadecimento. Claire é agressiva e realista, fechada para o exercício do afeto e dada ao consumo de ansiolíticos. Em seu tratamento se vê atraída pela história de uma colega de grupo que havia se suicidado e se aproxima da família da moça, do marido Roy (Sam Worthington) e do filho pequeno, Casey (Evan O’toole), a partir dai a história se desenrola.
Dirigido pelo não tão conhecido Daniel Barnz de “A Menina no Pais das Maravilhas” (2008) pelo qual ganhou o prêmio Dom Quixote, e roteirizado pelo também desconhecido Patrick Tobin, “Cake” foi indicado ao Globo de Ouro de melhor atriz e ganhou os prêmios, na mesma categoria, nos festivais de Capri e Santa Bárbara. O caminho das pedras da produtora executiva, ninguém menos que a própria Jennifer, foi investir em talentos premiados, reconhecidos internacionalmente e competentes para içar o filme. E aí temos: Adriana Barraza (Silvana – a fiel escudeira) de “Amores Perros” (2000) e indicado ao Oscar por “Babel”(2006); Anna Kendrick (Nina – a suicida) de “Caminhos da Floresta” (2014) e indicada aos Oscar por “Amor sem escalas”(2009); Sam Worthington de “Avatar” (2009) e “Jogada de Mestre” (2015), que estreia no Brasil em breve; Felicity Huffman (Annette – a psicóloga) da série de TV “Desperate Housewives” (2004-2012) e indicada ao Oscar por “Transamérica” (2005) e William Macy (Leonard) indicado ao Oscar por “Fargo” (1996).
Independente do repertório de estrelas, para embalar a história a trilha sonora contou com Christophe Beck de “Frozen” e a fotografia paradoxal de Rachel Morrison: fosca e acinzentada em alguns momentos, soturna em outros e alegre nos demais. Mas não seria o que é sem a atuação de entrega total de Jennifer, que dá um show. Com uma presença esplendorosa, do tom de voz ao olhar, das expressões faciais à leitura corporal. A metáfora da horizontalidade como representação de inércia e impotência, além de ser inteligente, é um aspecto importante na história. Aliás, as metáforas são bárbaras, a própria torta é uma simbologia muito especial. Paradoxo é outra palavra importante e tudo o que não falta a “Cake”: uma representante do jurídico norte-americano que tem como anjo da guarda uma imigrante mexicana, o legal versus o Ilegal, a agressividade versus a sensibilidade (destaque para as duas cenas da mão ao adormecer), a vontade de viver versus a necessidade de morrer… tudo isso são o recheio de “Cake – Uma Razão para Viver”.
Para fechar, o atrativo do filme é a atuação de Jennifer Aniston, que conseguiu dar um salto competente da comédia para o drama. Mas a partir daí você descobre uma obra cinematográfica que versa sobre a dor da alma e do corpo, sem ser maçante nem depressiva e que, de quebra, ainda traz uma lição de vida no final. Quem sabe também não é outra metáfora para a própria trajetória da produtora e atriz principal. Supreendente!
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