Canção da Volta

Canção da Volta

Por | 2018-06-17T00:38:31-03:00 6 de novembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Canção da Volta (Drama); Elenco: João Miguel, Marina Person; Direção: Gustavo Rosa de Moura; Brasil, 2016. 98 Min.

“Olhando de perto ninguém é normal”

(Machado de Assis in: O Alienista)

Retrato de uma relação doentia “Canção da Volta” é o primeiro longa-metragem de ficção de Gustavo Rosa de Moura, e tem no elenco João Miguel e a diretora Marina Person no seu primeiro personagem protagonista. O filme conta a história de um momento na vida do casal Júlia e Eduardo que têm interdependência emocional e alguns desajustes consigo mesmos um é depressivo e o outro paranóico.

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Júlia (Marina Person) sofre de depressão e já havia tentado o suicídio. Casada com Eduardo (João Miguel) e com dois filhos, Lucas (Francisco Miguez) e Mari (Stella Hodge), Júlia demanda atenção redobrada de toda família, incluindo a da mãe e a da sogra. Eduardo é apresentador de um programa televisivo de literatura, é dominador e paranóico. Se sente bem sendo o refúgio protetor da mulher dependente, cossequentemente, é controlador. Quando as coisas fogem do seu alcance de dominação, quem surta é ele. Ou seja, a abordagem é na área da psicologia das relações e viaja na possibilidade de um amor dependente, de um parasitismo emocional como sendo a ponte de ajuste entre duas pessoas emocionalmente doentes.

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O longa- metragem foi roteirizado Leonardo Levis de “O Concurso” (2013) que também colaborou no roteiro de “Alemão” (2014) e,  juntamente, com Gustavo Rosa de Moura fazem uma radiografia dos elos da relação de Eduardo E Júlia. Gustavo é conhecido por documentários como “Os Piadeiros” (2015) e séries e filmes de TV. Os destaques vão para a fotografia  sombria de Flora Dias de “Califórnia” (2015), para a música de Caetano Veloso “Mora na Filosofia” e para as metáforas escolhidas para figurarem a depressão, a paranóia e a relação da família entre si: o apartamento cujas janelas e a porta dão para a terra, o subsolo, sem ventilação, sem vista, sem horizonte; a taça trincada que ainda é útil mas não é a ideal e a casa vazia somente com as vozes de seus moradores, respectivamente. As metáforas são inteligentes, sutis e dialogam com o movimento do filme que é o de viajar entre a realidade, a imaginação, o sonho e o devaneio. E ainda, nos põe para refletir sobre a normalidade. O que é ser normal? Quem conceituou isso e relativizou o conceito? Como se aplica? Como se define?

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“Canção da Volta” é um filme sobre as relações humanas mais próximas, e toda relação é relação por conexão de seus elos, e os de Júlia e Eduardo são dantescos, doentios, sombrios, nublados e sufocantes. O filme é uma boa pedida para os terapeutas familiares e para quem gosta do tema. Em tempo: as atuações de João Miguel  de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (2011) e Marina Person Valem o ingresso.

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“Mora na Filosofia pra quê rimar amor e dor”

(Caetano Veloso – Álbum Transa/1972)

Uma Palhinha da música tema (Aqui!)

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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