Carol

Por | 2016-02-03T02:52:58-03:00 3 de fevereiro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Carol (Drama/Romance); Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler; Direção: Todd Haynes;  Reino Unido/USA, 2015. 118 Min.

Indicado ao Oscar em seis categorias, “Carol” de Todd Haynes é baseado no livro “The Price of Salt” de Patricia Highsmith (1921-1995) e conta e a história da afetividade entre Carol Aird e Therese Belivet e o faz com uma primorosidade artística em que os silêncios e os olhares são discursos inteiros.

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O contexto é década de 50, seus valores morais e sua regras de boa conduta. Neste caldo cultural Carol (Cate Blanchett) que sempre viveu o casos com outras mulheres quando solteira, casa-se com  Harge Aird (Kyle Chandler) e tem uma filha, Rind Aird (Kk Heim/Saddie Heim). O casamento, obviamente, acaba e Carol continua discretamente, seguindo sua orientação sexual. Até que um dia, numa loja de departamentos encontra Therese (Rooney Mara) uma vendedora do setor de brinquedos, e passam a se ver com frequência.  O ex-marido resolve, então, pedir a guarda integral da filha na vara judicial da família alegando imoralidade. Aí a história se desenrola. Mas,  com uma elegância e sensibilidade memoráveis.

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A ligação entre as duas mulheres de níveis sociais diferentes, idades diferentes, mundos diferentes, gera em Carol o prazer de apresentar a Therese um mundo que ela não conhece enquanto saboreia o encantamento de Therese com tudo o que lhe acontece. Essa, por sua vez, se posta deslumbrada diante de uma mulher elegante, sofisticada e admirável, e em sua vida pessoal começam os questionamentos sobre o caminho natural da mulher: casar-se com um homem. A abordagem dessa relação no roteiro de Phyllis Nagy é feita através dos olhares, dos diálogos curtos, dos takes,  da fotografia poética, da trilha sonora que traz os hits da época, dentre eles “Easy Living” na voz de Billie Holiday. Os silêncios em “Carol” são cheios de olhares ávidos que  são verdadeiros discursos de exercício da existência, de curiosidades, de criação de identidade, de desafio ao medo, de autoconhecimento e subversão. A postura das personagens diante dos preconceitos e cerceamento de direitos por conta da orientação sexual, em momento algum é vitimista, ao contrário, é assertivo.

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Todd Haynes é um diretor conhecido, indicado ao Oscar por “Longe do Paraíso” (2002) e que dirigiu magistralmente Cate Blanchett – oscarizada duas vezes – e Rooney Mara – indicada duas vezes ao Oscar – e que estão soberbas com uma química e uma harmonia na composição dos personagens admiráveis. O uso dos silêncios dá espaço ao imaginário do espectador. E isso tudo é costurado com a fotografia de Edward Lachman de “Erin Brokovich: uma mulher de talento” (2000) que enche as subjetividades de poesia. Outro detalhe que não passa despercebido é o figurino de Sandy Powell, que tem três Oscars no currículo e pode ganhar o quarto.

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Por tudo isso as seis indicações ao Oscar foram para as categorias de: Atriz (Cate Blanchett); atriz coadjuvante (Rooney Mara); roteiro, Fotografia, figurino e trilha sonora. O filme já abocanhou a Palma Queer do Festival de Cannes, o Sapo de Ouro do Camerimage (fotografia); o filme do ano no AFI Awards e da Associação online de Críticos de Boston; melhor roteiro e fotografia no Alliance of Women Film Journalists (2016), dentre outros.

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Ao contrário de “Azul é a Cor Mais Quente” (2013) que aborda e enfatiza a sexualidade, “Carol” se estabelece na afetividade e no contexto sociológico em que a orientação sexual é discriminada e usada como ofensa, mas o faz com uma sutileza e delicadeza impecáveis, além de dá um sacode na hipocrisia com muita classe, dizendo nas entrelinhas, que estas questões sempre existiram na história da humanidade, não é modismo. A diferença é que hoje podemos abordar com mais liberdade. As palavras que definem “Carol” são elegância, delicadeza e sensibilidade.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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