Chocolate

Chocolate

Por | 2018-06-17T00:26:18-03:00 28 de julho de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Chocolate (Chocolat) (Drama); Elenco: Omar Sy, James Thierrée, Clotilde Hesme; Direção: Roschdy Zem; França, 2015. 110 Min.

“Chocolat” de Roschdy Zem é um resgate da história do primeiro palhaço negro da França. Baseado no livro de Gerard Noirie “Chocolat – La véritable histoire d’un clown sans non” o longa-metragem é o retrato do racismo e da sordidez humana. E traz como pérola a imagetização da descoberta do racismo pelo próprio Rafael Padilla (nome não-artístico) e todo o processo corrosivo que isso teve em sua alma e na sua auto-estima. Estrelado por Omar Sy, o filme é um desagravo a esse artista que contribuiu para sofisticar a arte da palhaçada, juntamente, com George Foottit, interpretado por James Thierrée.

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Raul Padilla foi um afro-cubano nascido entre 1865 e 1868 que fora vendido como escravo quando criança, foi parar na Europa e virou atração de circo como canibal selvagem. Lá encontra o palhaço branco George Foottit (James Thierée) que o chama para parceiro profissional e juntos conquistaram a França. Tudo isso no final do século XIX. Para dar vida a essa história o diretor francês Roschdy Zem, junto com Gerard Noiriel, (historiador especializado em imigrações na França e autor do livro no qual o filme é baseado) e os roteiristas Olivier Gorce de “O Valor de Um Homem” (2015) e Cyril Gely de “Diplomacia” (2014) resolveram adapta-la para o cinema. Para completar o projeto, os atores James Thierrée, neto de Chaplin, e Omar Sy, que ficou mundialmente famoso por “Os Intocáveis” (2011), toparam fazer parte da empreitada.

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O que se vê, nas quase duas horas de película (usando o charme espanhol da palavra) é a radiografia da mentalidade de uma sociedade. Mas o que assusta é que ela é extremamente atual, não está restrita a  uma época, a um lugar ou a um determinado grupo social. Chocolate (Omar Sy) assustava um público que nunca havia visto um negro. Como estava acostumado a um tratamento quase animal, ele não percebia o que significava, até que, com George Foottit conhece os aplausos, a cidade grande, os códigos de comportamento de um grupo, o sucesso, o conforto e a ojeriza, o preconceito. Passa a perceber seu valor como profissional na dupla, exige ser chamado pelo nome (Rafael Padilla) – o detalhe é que o próprio espectador é envolvido no mistério de seu nome  que só é mencionado na segunda metade do filme – exige ser retratado como humano nos cartazes – o era como um primata – e ousa usar sua cognição numa peça de teatro – Otelo de Shakespeare – ao invés do corpo e da coordenação motora levando tapas e ponta-pés. “Chocolate” resgata a história de um dos palhaços mais célebres da história do circo e do primeiro palhaço negro da França.

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O longa-metragem de Roschdy Zem é uma produção francesa que tem como destaques, além das atuações espetaculares dos dois atores principais, a fotografia de Thomas Letellier que, ao mesmo tempo em que é brilhante e luzidia nos momentos de sucesso é fosca, sombria e nublada nos momentos difíceis. A direção de arte do designer Jeremie Duchier de “Caché” (2005) e da decoradora Agnes Demaegot de “Uma Nova Amiga” (2012) é primorosa  e  a trilha sonora de Gabriel Yared – oscarizado por “O Paciente Inglês” (1996) – dá o tom final.

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“Chocolate” é um filme de narrativa fechada em cima de uma biografia, baseado numa história real, talvez por isso um pouco engessada. Mas tem atravessamentos extraordinários, entre eles a homoafetividade de Foottit e o que sobra para uma mulher casada com negro numa sociedade preconceituosa. O longa-metragem de Roschdy Zem é um excelente resgate de memória da História do circo através da história de  Raul Padilla, o Chocolate.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

Nenhum Comentário.

  1. Edmilson 1 de agosto de 2016 em 01:04 - Responder

    E o primeiro palhaco negro brasileiro era carioca, era escravo e se tornou palhaco

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