Deadpool (Ação/Aventura/Ficção-Científica); Elenco: Ryan Reynolds, Ed Skrein, Morena Baccarin, Stefan Kapicic, Brianna Hildebrand; Direção: Tim Miller; USA/Canadá, 2016. 108 Min.
Esqueça o super-herói de moral ilibada, boas maneiras, cavalheiro, que tem sempre o que ensinar a alguém ou que quer ser exemplo de boa conduta. Nascido nas histórias em quadrinhos (HQs) na década de 90, Deadpool, possivelmente, é o mais recente super-herói ou não-super-herói do Universo Marvel. Com perfil de homem comum, imperfeito, irreverente, revoltado e sarcástico “Deadpool” tem como característica principal a quebra da quarta parede (ele conversa com o leitor/espectador). A aposta nesse anti-herói, que ganha um episódio solo no cinema, é a identificação com o público no que diz respeito a comportamento cotidiano e questionamento do Status Quo com muito deboche.
Criado por Rob Liefeld e Fabian Niciesa em 1991 como um vilão, Deadpool apareceu pela primeira vez no Brasil na edição de “Os Fabulosos X-men”#584 em 1994. Pansexual e tagarela, o anti-herói é conhecido pela sua capacidade de destruição, humor ácido e seu poder de autocura, adquirido a partir de uma experiência no mesmo projeto que transformou Wolverine. Órfão de mãe e assassino do próprio pai, Deadpool é um desequilibrado, emocionalmente instável, sem eira nem beira, que se transforma em um mercenário e habita o espaço geográfico do “Demolidor” e de “Jessica Jones”, o bairro de Hell’s kitchen – foi, inclusive, comparsa de Wilson Fisk, o arqui-inimigo do Demolidor -. Apesar de todo esse perfil desastroso para um ‘super-herói’ Deadpool tem código de honra: só mata quem merece ser morto (e quem decide é ele, é claro) vide o caso da cega Al (althea) que era um de seus contratos e virou amiga. (presente no longa-metragem).
Na versão cinematográfica “Deadpool” é apresentado ao público e ele mesmo conta sua história de forma não linear, enquanto busca vingança pelo que Francis/Ajax (Ed Skrein) fez com ele durante a experiência de cura de um câncer, que acabou lhe dando os superpoderes. Enquanto isso Ajax sequestra sua namorada Vanessa (Morena Baccarin) e Deadpool (Ryan Reynolds) se divide entre a vingança e salvar a namorada, numa mistura de ironia e sarcasmo admiráveis, inclusive em relação ao arquétipo do gênero romance.
Os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick de “Zumbilância” (2009) pinçam características de cada versão de Deadpool: da “Era do Apocalipse”; dos “X-men Origens: Wolverine”; de “Terra 616” e de “Ultimate Deadpool” para compor o personagem cinematográfico que, nesta versão, luta com espadas. E tudo fecha redondinho. Dirigido por Tim Miller, estreante na seara dos longa-metragens, e que vem do nicho dos efeitos visuais, a história cumpre sua função de apresentar o não-herói numa obra solo no cinema. Já que daqui por diante, aparecer no “Capitão América” e/ou nos “Vingadores” vai ser só um detalhe. A trilha sonora de Junkie XL de “Mad Max: Estrada da Fúria” em seu uso irônico, faz lembrar “Guardiões da Galáxia” (2014).
Mas, “Deadpool”, na verdade, é uma crítica pesada a hipocrisia e aos produtos cinematográficos bem embalados que fomentam o não-questionamento da ordem vigente, e que nada tem a ver com o cotidiano real do homem comum. “Deadpool” conquista público quando usa uma linguagem popular e a ousadia da insubordinação e da subversão do arcabouço de bom comportamento. E se impõe como obra cinematográfica quando é fiel a sua proposta até o final, arremata bem os pontos abordados e diverte. “Deadpool” é um soco de 2 toneladas no clichê de bom moço e, possivelmente, a quebra oficial de paradigmas comportamentais no mundo dos super-heróis.
Em suma, o longa é a aposta cinematográfica em uma carreira solo de um herói que não quer ser herói, que zomba dos clichês de filmes de heróis – inclusive de si mesmo -, que tem a cara dos problemas do homem comum: sem emprego, sem família, sem um lugar para morar e que perdeu o otimismo na missão de se tornar uma pessoa melhor. Por todas essas camadas sutis de entendimentos e subentendimentos dos aspectos abordados e mais, pela extrema violência, gestos obscenos, conotações sexuais e palavras de baixo calão, a classificação indicativa subiu para 16 anos. É, “Deadpool” não é um super-herói para criancinhas, é para adultos. Lembrando que Stan Lee aparece onde você menos imagina, e de que tem cena pós-créditos. Numa palavra? Divertidíssimo!
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