Demônio de Neon (The Neon Demon) (Horror/Triller); Elenco: Elle Fanning, Karl Glusman, Jena Malone, Bella Heathcoate, Abbey Lee, Keanu Reeves; Direção: Nicolas Winding Refn; França/Dinamarca/EUA, 2016. 118 Min.
“…um diamante num mar de vidros”
(The Neon Demon)
Vaiado e premiado em Cannes. A saga bipolar de “Demônio de Neon” está impregnada em sua história, na forma de conta-la, na produção da obra e na recepção do público. O mais recente filme do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn fala sobre a vileza e a crueldade do ser humano e sobre a selva que é a civilização e seus códigos bizarros. Tudo isso usando o exagero dos extremos abordados – a ingenuidade e a crueldade – e mergulhado em metáforas que são trazidas ao pé da letra numa criação plástica que está mais para um instalação do que para um filme.
Jesse (Elle Fanning) é uma menina de 16 anos recém-saída de uma cidadezinha do interior diretamente para Los Angeles com seu namoradinho fotógrafo, Dean (Karl Glusman) para tentar se tornar uma modelo famosa. Chegando lá consegue ser apresentada a grandes agências que a encaminham para grandes costureiros, que por sua vez, ficam encantados pela sua luminosidade e a escolhem para desfilar com seus vestidos na passarela. O que desperta inveja e ódio em sua concorrentes. Nada demais se não fosse a abordagem de Nicolas Winding Refn, que também roteirizou o longa. Nicolas não fala do mundo da moda, ele fala de pessoas, de suas energias, suas auras, e da inveja e crueldade. Tudo isso ambientado no mundo da moda. Primeiro, possivelmente, pela plasticidade, que é o ponto forte do filme. Segundo pela facilidade de adequação à competitividade gratuita. E para fechar, localiza os baixos instintos no, naturalíssimo, armistício feminino. O longa-metragem é um festival de metáforas imagéticas, desde a mise-en-scene à forma de abordar os assuntos. E por tal se transformou num desfile de arte fotográfica.
No que diz respeito ao tema: os selvagens que somos quando desprovidos de algo que nos enleve, nos remete a “O Conselheiro do Crime” (2013) de Ridley Scott. Esse no universo masculino – o da máfia e do tráfico de drogas – içando a poesia como apaziguador dos ânimos animalescos e aparador de arestas. Em relação à aura, aquela energia que mexe com o mundo ao nosso redor e enche, ou não, um ambiente de presença, principalmente no quesito, feminilidade, a referência procedente é “Lolita” (1962) de Kubrick. E na pegada artística e de contundência lembra o jeitão do cineasta Gaspar Noé em toda a sua filmografia.
Nas tecnicalidades a fotografia e a trilha sonora são o carro chefe. A primeira é de Natasha Braier de “The Rover – A Caçada” (2014), a segunda é de Cliff Martinez de “Traffic” (2000). Essa saiu de Cannes premiada, é impactante e insere o espectador num mundo das instalações propostas. O filme foi indicado à Palma de Ouro, mas não levou. O que é compreensível, a história e a sua maneira de conta-la é muito livre, sem arremates e dá a impressão de se estar perdido. Inegável é a competência de Nicolas para o uso de metáforas imagéticas. Isso, talvez, explique ter sido seleção oficial de Cannes. Porém, o filme é para poucos olhos. Isso, talvez, explique as vaias.
Quanto as atuações, Elle Fanning de “malévola” (2014) deu conta do recado. O apagado Karl Glusman de “Love” (2015) cumpriu o seu papel de fazer o contra-ponto à personagem de Jesse. Das três amigas malignas, o destaque vai para Jena Malone de “Jogos Vorazes: Em Chamas” (2013). Quem está sobrando é Keanu Reeves que desde “Constantine” (2005) não fez um gol e não emplacou nada.
“The Neon Demon” (no original) é uma viagem filosófico/imagética sobre o exterior X a essência num festival de metáforas contundentes sobre o humano. É a pegada do cinema dinamarquês, disfarçado de cinema francês, cortando na carne e dando um tapa na cara sem dó nem piedade. “Demônio de Neon” é uma crítica a superficialidade e, ainda, nos diz que para viver tem que se ter estômago, literalmente. Mais fashion impossível. Vaticinando: antropofágico!
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