Detroit em Rebelião

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Detroit em Rebelião

Por | 2018-06-17T00:59:22-03:00 12 de outubro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Detroit em Rebelião (Detroit) (História/Drama/Crime); Elenco: John Boyega, Will Poulter, Algee Smith, Jacob Latimore, Jasom Mitchell, Hanah Murray, Kaitlyn Dever, Ben O’toole; Direção: Kathlyn Bigelow; USA, 2017. 143 Min.

Dois filmes abordam os protestos de Detroit de julho de 1967, “12th and Clairmount” de Brian Kauffman e “Detroit em Rebelião” de Kathlyn Bigelow. O primeiro, um documentário que juntou vídeos e fotos de antes, durante e depois do distúrbio civil, mostrando uma Detroit próspera e em seguida uma Detroit destruída. O segundo, uma junção de imagens de arquivo e dramatização de um fato em particular: os abusos policiais ocorridos no motel Algiers no terceiro dia dos eventos de confronto.

O longa-metragem dirigido por Kathlyn Bigelow de “A Hora mais Escura” (2012) e “Guerra ao Terror” (2008), está contextualizado nos quatro dias de distúrbios ocorridos na cidade de Detroit em julho de 1967. Considerado o pior na História da cidade desde o de 1943. O estopim foi uma batida policial ocorrida num bar ilegal na esquina das ruas 12 com a  Clairmount, que comemorava o retorno de dois veteranos de vietnã. Todos os frequentadores foram presos, incluindo 82 negros. Os moradores,então, iniciaram uma série de protestos sem trégua que evoluiram para quebra-quebra, saques, incêndios e tiroteios se espalhando por vários bairros da cidade. Com a falta de controle a Guarda Nacional foi acionada juntamente com o Exército americano deixando um saldo de 43 mortos, 1189 feridos e dois mil edifícios destruídos.

O que Kathlyn Bigelow e Mark Boal (roteirista) fazem,  é pinçar um episódio chocante dentro desse contexto e destrinchar-lhe os acontecimentos: a invasão da Guarda Nacional ao motel Algiers, onde três jovens negros foram mortos, outros sete espancados e com eles duas mulheres brancas. E fazer o espectador acompanhar o desfecho dessa história horrenda. O mote do filme é mostrar a gratuidade do racismo, enfatizar a crueldade humana e mostrar o quanto ainda carecemos de evolução. O longa não apresenta considerações ou conclusões, deixa isso nas mãos do espectador. Mas, dramatiza de forma brilhante os fatos ocorridos, colhidos através de depoimentos atuais e documentos e registros da época.

Kathlyn Bigelow tem um talento especial para pinçar os aspectos mais potentes de uma questão polêmica em meio a atrocidades,  desmandos, suspensão de direitos e abusos de poder. Foi assim em “A Hora Mais Escura” onde ela conta a história da suposta prisão de Osama Bin Laden. Outros aspectos que compõem essa ópera de horror com competência é trilha sonora de James Newton Howard de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (2016), a fotografia genial de Barry Ackroyd de “A Grande Aposta” (2015) e a edição cirúrgica de Willian Goldenberg de “O Jogo da Imitação” (2015). Mas, o forte mesmo é o roteiro, o recorte feito,  e as atuações, principalmente, a de Will Poulter (o policial Krauss).

Em suma, é um filme para tirar de lugar comum, com uma abordagem competente e que contribui para pensarmos o quanto somos covardes e equivocados cheios de certezas. O filme é um dos grandes dessa diretora corajosa que se aventura na seara da violência e dos desmandos humanos com uma assertividade impressionante. O longa-metragem é para quem tem estômago forte e vale muito a pena assistir.

A diretora Kathlyn Bigelow


 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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