Devoir de Mémoire

Devoir de Mémoire

Por | 2015-06-14T21:10:56-03:00 14 de junho de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

devoir_memoire

Devoir de Mémoire. (Docu-ficção/Política); Direção: Mamadou Cissé; Mali, 2014. 80 Min. #8encontrocinemanegro2015

O documentário de Mamadou Cissé, premiado na categoria no Festival Internacional de Burkina Faso (o maior e principal festival de cinema de todo o continente africano), versa sobre os acontecimentos políticos ocorridos no período de ocupação do norte do Mali por grupos islâmicos armados. Cissé não atenua a  contundência dos depoimentos e nem  as imagens, e tem o privilégio de costurar os acontecimentos com os olhares da população local através de seus depoimentos.

Mamadou Cissé nasceu em Bamako, no Mali e dirigiu alguns curtas, médias e longas metragens. Trabalhou com Soulemane Cissé e é membro fundador da União de  criadores e Atores de Cinema e Audiovisual do Oeste de África (UCECAU). “Dever de Memória” em tradução livre é seu segundo longa-metragem.

O período que Devoir de Mémoire” abrange é de março de 2012 a janeiro de 2013 e o contexto e o mesmo abordado em “Timbuktu” de Abderrahmane Sissako, que também faz parte da região coberta pelo Doc. Registra as ações de grupos jihadista como os D’Ansar Dine,  do movimento para a Unicidade da Jihad (guerra santa) na África ocidental (MJUAO) e do Movimento Libertação Nacional de Azawad (MNLA). A estratégia da obra cinematográfica e mostrar tudo, dentro do  que é permitido nos fóruns de mostras de cinema, preservando apenas a identidade dos indivíduos (vítimas). Porém a contundência é a marca registrada, mostra a violência dos opressores e a da resistência e conta com as versões dos depoimentos de locais, sua formas de ver e entender as questões, dos articuladores políticos  locais aos moradores, pessoas do cotidiano das cidades.

O Documentário de Mamadou Cissé mostra o nível de politização e produção de pensamento desses povos sobre sua realidade e suas causas. E vai da  ocupação dos grupos radicais a libertação dos povoados e aldeias com a ajuda do exército argelino. Uma obra cinematográfica nua, crua e ousada e digna de ovações. Cissé entende como “Dever de Memória” mostrar as lutas de seu povo e a sua trajetória na conquista da liberdade política e no espalhar de esperança em todos os sentidos, para todos os olhos e ouvidos que se prestem a serem atentos. Uma ousadia política, e não esqueçamos, premiada. Logo, reconhecida pelos canais que institucionalizamos para ‘importantizar’ e diferenciar o lugar comum do selo de qualidade. Uma obra destemida e extremamente corajosa!

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

Deixar Um Comentário