Devoir de Mémoire. (Docu-ficção/Política); Direção: Mamadou Cissé; Mali, 2014. 80 Min. #8encontrocinemanegro2015
O documentário de Mamadou Cissé, premiado na categoria no Festival Internacional de Burkina Faso (o maior e principal festival de cinema de todo o continente africano), versa sobre os acontecimentos políticos ocorridos no período de ocupação do norte do Mali por grupos islâmicos armados. Cissé não atenua a contundência dos depoimentos e nem as imagens, e tem o privilégio de costurar os acontecimentos com os olhares da população local através de seus depoimentos.
Mamadou Cissé nasceu em Bamako, no Mali e dirigiu alguns curtas, médias e longas metragens. Trabalhou com Soulemane Cissé e é membro fundador da União de criadores e Atores de Cinema e Audiovisual do Oeste de África (UCECAU). “Dever de Memória” em tradução livre é seu segundo longa-metragem.
O período que Devoir de Mémoire” abrange é de março de 2012 a janeiro de 2013 e o contexto e o mesmo abordado em “Timbuktu” de Abderrahmane Sissako, que também faz parte da região coberta pelo Doc. Registra as ações de grupos jihadista como os D’Ansar Dine, do movimento para a Unicidade da Jihad (guerra santa) na África ocidental (MJUAO) e do Movimento Libertação Nacional de Azawad (MNLA). A estratégia da obra cinematográfica e mostrar tudo, dentro do que é permitido nos fóruns de mostras de cinema, preservando apenas a identidade dos indivíduos (vítimas). Porém a contundência é a marca registrada, mostra a violência dos opressores e a da resistência e conta com as versões dos depoimentos de locais, sua formas de ver e entender as questões, dos articuladores políticos locais aos moradores, pessoas do cotidiano das cidades.
O Documentário de Mamadou Cissé mostra o nível de politização e produção de pensamento desses povos sobre sua realidade e suas causas. E vai da ocupação dos grupos radicais a libertação dos povoados e aldeias com a ajuda do exército argelino. Uma obra cinematográfica nua, crua e ousada e digna de ovações. Cissé entende como “Dever de Memória” mostrar as lutas de seu povo e a sua trajetória na conquista da liberdade política e no espalhar de esperança em todos os sentidos, para todos os olhos e ouvidos que se prestem a serem atentos. Uma ousadia política, e não esqueçamos, premiada. Logo, reconhecida pelos canais que institucionalizamos para ‘importantizar’ e diferenciar o lugar comum do selo de qualidade. Uma obra destemida e extremamente corajosa!
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