Diplomacia

Diplomacia

Por | 2018-06-17T00:11:15-03:00 7 de janeiro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Diplomacia (Diplomatie). (Drama); Elenco: André Dussollier, Niels Arestrup; Direção: Volker Schlöndorff; França/Alemanha, 2014. 84 Min. 

O recorte de tempo é a noite de 24 de agostos de 1944. O espaço é a Paris ocupada pelas forças nazistas. O argumento, as conjecturas das conversas que fizeram com que a capital da França amanhecesse o dia 25 intacta, sem que as ordens do Füher fossem cumpridas. O filme de Volker Schlöndorff é baseado na peça teatral homônima de Cyril Gely, que estreou no Théâtre de la Madeleine em 2011, com os mesmos atores interpretando os mesmos papeis, e que na versão cinematográfica levou o César 2015 de melhor roteiro adaptado e melhor diretor no Valladolid International Fim Festival.

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A história de “Diplomacia” consiste nas conversas de uma noite inteira entre o general alemão Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup) e o diplomata sueco Raoul Nordling (André Dussollier) e  os preparativos bélicos para explodir Paris. O encontro da noite de 24/08/1944 não aconteceu de fato, é uma ficção. Mas, é baseada nos vários encontros acontecidos entre o general e o diplomata antes da noite fatídica, e que na ficção são compilados para aquele cenário. Quanto aos estratagemas bélicos eles são baseados numa notícia publicada no jornal francês Le Figaro que teve como fonte os arquivos militares alemães em que constavam os detalhes táticos para as explosões das pontes sob o rio Sena, a Catedral de Notre Dame, o museu do Louvre, dentre outros espaços parisienses. Que deixaria Paris, supostamente,  inundada pelas águas do Sena por conta de  terem suas saídas bloqueadas pelos destroços. Este fato inspirou o Best-Sellers “Paris Está Em Chamas?” de Larry Colins e Dominique Lapierre, lançado em 1965. E o livro deu origem ao filme de mesmo nome dirigido por René Clément com roteiro de, ninguém menos que, Gore Vidal e Francis Ford Coppola, com um elenco estelar, dentre eles: Orson Welles. “Diplomacia” traz para a cena uma outra batalha, a da retórica e persuasão. O longa-metragem é uma aula de História (sem pretender sê-la) com estrategismos de guerra, com discursos sobre logística e a legislação despótica de Hittler. Um jogo de xadrez maravilhoso de argumentação e contra-argumentação.

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Dentre as tecnicalidades, as atuações de André Dussollier e Niels Arestrup estão soberbas. Isso rendeu a Niels o prêmio de melhor ator no Valladolid International Film Festival. Mas, a menina dos olhos do filme é o roteiro de Cyril Gely e Volker Schlöndorff e sua tessitura argumentativa, que foi premiado com o César. Quanto a Volker, era de se esperar um trabalho desse cabedal. Cineasta, economista e cientista político, Volker Schlöndorff trabalhou com os maiores cineastas franceses, dentre eles: Louis Malle, Jean-Pierre Melville e Alan Resnais, além de ter uma queda por adaptações da literatura alemã e mundial e uma facilidade para conciliar os aspectos políticos sutis das questões postas simplificando a linguagem e tornando-a acessível ao grande público. Volker sintetiza ações, entendimentos e possibilidades múltiplas deles em pausas, olhares e silêncios. E o faz de forma admirável. Os outros destaques ficam por conta da direção de arte de Philippe Turlure, indicado ao Oscar por “Evita” (1996), trazendo aquela noite de volta em todos os aspectos, imbricadas nos objetos, na decoração e no cuidado; e a edição/montagem de Virginie Bruant que mistura cenas reais (de arquivo) e ficcionais num fomento de realidade que merece citação. A locação teve muito a ver com essa harmonia e não pode ser esquecida. Foi o Hotel Le Meurice, fundado em 1835, que serviu, de fato, de QG para as tropas nazistas na segunda Guerra Mundial e já foi usada em vários filmes, dentre eles: “Meia-Noite em Paris” (2011) de Woody Allen.

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“Diplomacia” é um filme histórico floreado com ficção e que seleciona público. É para quem não tem problemas em acompanhar longas conversas e que gosta de História, é claro. É para os que apreciam o bom e velho duelo de palavras, que conhecem o valor das pausas e sabe lê-las. Nesse sentido o longa é primoroso e vale o quanto pesa. É uma aula sobre a arte da persuasão. Soberbo!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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