Do Pó da terra (From Dust of the Earth) (Documentário); Participações: Izabel Mendes da Cunha, Noemia Maxakali, Ulisses Pereira, Maria José Gomes da Silva e outros; Direção: Maurício Nahas; Brasil, 2016. 79 Min.
“Mesmo morrendo a gente vai com o selo…morreu um artesão”
Se em “5 Vezes Chico: O Velho e Sua Gente” (2015) cinco diretores versaram sobre a população ribeirinha ao Longo do Rio São Francisco, da Minas Gerais a Sergipe, agora é vez da gente do Vale do Jequitinhonha. “Do Pó da Terra” de Maurício Nahas é inspirado na obra “Noivas da Seca” de Lalada Dalglish e trata-se de um projeto de Nahas com argumento de Fernando Machado (diretor de fotografia) com roteiro de Di Moretti que gerou três produtos distintos: uma exposição homônima em São Paulo no ano passado, um livro de fotografias com imagens de Maurício Nahas e textos de Diógenes Moura, Emanuel Araújo e Fernando Machado e um documentário. É sobre esse último que vamos versar.
Em 2013 Fernando e Maurício percorreram 3.300 Km entre sete cidades do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, capturando imagens e conversando com os artesãos da região para fazer um filme sobre o que havia em comum entre a figura humana e a natureza das coisas. O objetivo era lançar um olhar sensível sobre a produção artística de cerâmica e argila da região. Conhecido como vale da miséria com altas taxas de desemprego, mortalidade infantil, alcoolismo, violência, a seca e com um solo condenado pela monocultura do eucalipto, o vale do jequitinhonha resiste, e a equipe de Nahas vai em busca da vida existente ali e encontra criatividade, inteligência, assertividade e resiliência. Encontra também, um espelho íntimo de sonhos, desejos e aspirações postos nos trabalhos artesanais de barro das mulheres, numa brincadeira de expor-se e esconder-se poética misturada ao cotidiano.
O documentário tem o papel de registro dos costumes da região através das falas dessas mulheres e suas histórias. E o quanto suas esculturas tem a ver com suas dores, alegrias, anseios e sonhos. Esse registro feito de forma, quase poética, mostra vida no Vale do Jequitinhonha e registra uma produção artística que passou a ser marca registrada da região. Os depoimentos/conversas vão desde a da índia Noemia Maxakali, que fala da origem dessa arte indígena, até D. Izabel, mulher da cidade, que resolveu usar a técnica para fazer esculturas de noivas e ensinar as meninas da região perpetuando a arte com o barro para as gerações seguintes.
Primeiro longa metragem do fotógrafo Mauricio Nahas, “Do Pó da Terra” faz um passeio pela vida da gente do Jequitinhonha registrando não só as peças artesanais, seus temas e estilos, mas também é dedicado (In Memorian) a D. Izabel Mendes da Cunha. O longa acabou por se tornar um instrumento de registro dessa tentativa de perpetuação da cultura do artesanato do Vale e é para quem gosta de apreciar costumes regionais, perceber nossa diversidade de costumes, nossa riqueza cultural e ouvir histórias da gente da nossa terra. Além de conhecer os Brasis que o Brasil não conhece.
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