Egon Schiele: Morte e Donzela (Egon Schiele: Tod und Mödchen) (Biografia/Drama/História); Elenco: Noah Saavedra, Maresi Rigner, Valerie Pachner, Marie Jung, Cornelius Obonya; Direção: Dieter Berner; Áustria/Luxembourg, 2016. 110 Min.
A Áustria, um dos ícones europeus de cultura erudita e valorização da prata da casa, numa co-produção com Luxemburgo traz para a telona a vida do pintor austríaco Egon Schiele, protegido de Gustav Klimt – outro ícone das artes plásticas – pelo viés de uma de suas obras mais famosas, A Morte e a Mulher. Considerado um dos maiores pintores do século XX e um dos expoentes do expressionismo, Egon Schiele tem um trabalho intenso em relação à sexualidade. O artista figura, mais uma vez, como alvo de outro suporte – o cinema – como fonte de memória, de sua vida, de sua época e mentalidade e de suas obras.
Egon Schiele (1890-1918) é retratado em outras obras de outros suportes durante o século XX. No cinema, em 1980, foi alvo de um filme biográfico dirigido por Herbert Vesely e produzido pela Alemanha, intitulado Excess and Punishment. Ainda no mesmo ano, numa produção britânica um documentário retratou seu tempo na prisão, Schiele in Prision. Na literatura foi retratado livro de Joanna Scott – Arrogance – e Mario Vargas Llosa se baseou em sua vida para argumentar sobre sedução e exploração da moralidade em seu livro The Notebook of Don Rigoberto (1997). No teatro e na dança foi retratado por Stephan Nazareth em Egon Schiele (1995), ainda, a coreógrafa Lea Anderson fez um espetáculo em 1997 com a Compania de Dança Featherstonehaughs, intitulado: Draw on the sketchback of Egon Schiele. Outros ensaios e afins abordaram a vida desse artista para além de seu tempo. Agora, é a vez do austríaco Dieter Berner contar a história de vida desse ícone das artes plásticas e o faz a partir de seu romance com Wally, a musa inspiradora do quadro A Morte e a Mulher.
O período é de 1914 a 1918, os últimos quatro anos de sua vida, contextualizado na I Guerra Mundial, nos mostra a relação de Schiele (Noah Saavedra) com a irmã Gerti (Maresi Reigner) e com suas modelos. Em particular com Wally Neuzil (Valerie Pachner), seu casamento com Edith Harms (Marie Jung), sua prisão, acusado de pedofilia e pornografia e sua morte. Além da relação com Gustav Klimt. Em nenhum momento o longa se apresenta moralista ou objetiva criar juízo de valor. O seu viés é o da personalidade de Egon Schiele e sua produção magnífica.
Com uma equipe local, sem nomes conhecidos internacionalmente ou renomados, Dieter Berner se lança nesta empreitada contando com a roteirista Hilde Berger e seu talento bem fincado na cultura alemã. Com o compositor de trilhas sonoras André Dziezuk de ” Amor e Revolução” (2015) e o cinegrafista Carsten Thiele do explendoroso “A Segunda Esposa” (2013) o cineasta cria uma obra de arte cinematográfica. Os grandes destaques ficam por conta de Noah Saavedra que interpreta o personagem de forma soberba, o que lhe valeu o prêmio de melhor ator no New Faces Awards e no Romy Gala e; Valerie Pachner que abocanhou o prêmio da categoria no Austrian Film Awards e no Romy Gala. O longa também recebeu prêmios pelo roteiro e pela produção no Romy Gala. Dieter Berner não é tão conhecido em outras paragens, mas tem no currículo cerca de 40 filmes para o cinema e para a TV, além de reconhecimento em festivais europeus.
Em suma, “Egon Schiele: Morte e Donzela” traz para os espectadores do século XXI a memória desse artista do século XIX que pensava à frente de seu tempo e resgata a história de algumas de suas obras durante a exibição. Por se tratar de um métier bastante específico seleciona público. Ficarão mais à vontade os amantes das artes plásticas, os historiadores da arte e aqueles que curtem biografias. O longa é uma sumidade em produção e abordagem e vale a pena conferir.
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