Elis (Biografia/Drama); Elenco: Andréia Horta, Gustavo Machado, Caco Ciocler; Direção: Hugo Prata; Brasil, 2016. 110 Min.
Como falar de Elis Regina? Por onde começar? Em quais aspectos se deter? Hugo Prata escolheu um projeto difícil. Versar sobre uma das vozes mais marcantes da Musica Popular Brasileira e uma de suas intérpretes mais punjantes exige coragem. Primeiro para saber qual caminho seguir, segundo para decidir o que cortar. E Hugo Prata preferiu falar da vida profissional de Elis, pinçar um ou outro momento da vida pessoal e algum momento político, e brandamente, alguns desafetos. Cortou aspectos mais dolorosos, mais expositivos negativamente, como a dependência química e as desavenças com a mãe que sequer aparece. Com esse viés “Elis” enaltece a cantora e seu talento, mata a saudade com execuções de músicas inteiras e nos apresenta uma dedicação profissional admirável, a de Andréia Horta.
O longa-metragem é um recorte de tempo de 18 anos na vida da cantora, ou seja metade de sua vida, que vai de 1964 a 1982. E se inicia com sua saga profissional para fazer sucesso. Mostra os amores, o nascimento dos filhos, e até uma pulada de cerca. No mais é uma jornada profissional pontuada por suas músicas, executadas inteiras e na voz de Elis. Também nos apresenta a versão de Hugo Prata para Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado), Miele (Lucio Mauro Filho), Nelson Mota (Rodrigo Pandolfo), Cesar Camargo Mariano (Caco Ciocler) e Lennie Dale (Julio Andrade) mandando bem na volta ao passado com pequenas nuances que nos faz viajar.
Os destaques vão para atuação de Andréia Horta, a fotografia de Adrian Teijido e a edição de Tiago Feliciano. A primeira foi uma grata surpresa ver Andréia Horta, vista mais comumente em séries , filmes de TV e novelas, se esmerilhar e trazer, de fato, algumas remetências à Elis, nas feições, no sorriso, na maneira de falar e nas interpretações de palco. Atuação essa que lhe valeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado. A segunda foi a cinematografia das cenas produzidas dos festivais e shows marcantes na vida da cantora e por tal, Teijido foi indicado ao prêmio de melhor fotografia no mesmo Festival. A terceira, a edição de Tiago Feliciano, que lhe valeu o prêmio da noite na categoria e que conseguiu misturar todos os aspectos já citados num encadeamento que tornou a história agradável. Quanto a Hugo Prata tomou para si a função de Chronos quando decidiu contar a vida de uma mulher intensa como Elis Regina em uma hora e cinquenta minutos. Houve que se pinçar o que fosse considerado relevante para a linha que se decidiu abordar – lembrar Elis, saudar Elis e matar as saudades – e para tal pontuar os aspectos de empoderamento da personalidade da cantora foi importante. No mesmo estilo ‘leve’ e de produção dos shows sem mostrar as imagens de arquivos está a cinebiografia “James Brown” que nos faz pensar nos caminhos de escolhas feitas para a produção de uma biografia, nos mostrando que toda narrativa é uma versão.
Enfim, “Elis” é uma grande viagem à década de 60. Um desfile de nomes da noite carioca que estavam em início de carreira e é, literalmente, um show de Elis Regina com músicas como: “Arrastão” (1965); “Upa, Neguinho” (1965); “Como Nossos Pais” (1976); “O Bêbado e a Equilibrista” (1979) e por aí vai. Inclusive com direito ao acompanhamento da platéia para quem não resistir (e é difícil). “Elis” é uma biografia da eterna pimentinha, um viés da história de uma das musas da nossa música e que, mata a saudade de Elis para galera quarentona, e para os mais novos é uma grata apresentação. “Elis” é literalmente um show da Elis Regina no cinema.
- Editado (26/11/2016)
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