Em Nome da Lei (Ação/Drama/Thriller); Elenco: Mateus Solano, Paolla Oliveira, Chico Diaz; Direção: Sergio Rezende; Brasil, 2016. 117 Min.
Com um vocabulário bastante atual que deslinda palavras como ‘impunidade’; ‘delação premiada’ e ‘justiça’, “Em Nome da Lei” de Sergio Rezende é uma produção nacional baseada na história do juiz federal Odilon Oliveira. Filmado em Dourados – Mato Grosso do Sul – e com atores globais bem conhecidos do povão, o longa-metragem tem uma pegada de filme norte-americano com takes panópticos e fala de uma realidade para lá de cotidiana nas fronteiras brasileiras com embalagem de ficção.
Vitor (Mateus Solano) é um juiz recém nomeado que foi designado para uma cidadezinha de fronteira do Brasil com o Paraguai. Lugar no qual a lei e a ordem são da alçada de Hildo Gomez (Chico Diaz), um contraventor, traficante de drogas, que com rédeas coronelistas manda na justiça, tem poder político e econômico e é tido como “El Hombre”. O novo juiz, bem ao estilo Ranson Stoddard de “O Homem que Matou o Facínora” (1962), chega cheio de planos, de ideias e de ideais de justiça, de cumprimento da lei e de instauração da ordem na terra de ninguém. Então, reune sua equipe: a procuradora Alice (Paolla Oliveira), o delgado federal Elton (Eduardo Galvão) para enfrentar a versão tupiniquim de Liberty Valance – El Hombre. E nesse contexto as relações hierárquicas aparecem tanto de um lado – o da justiça – quanto de outro – o dos milicianos – como a do oficial de justiça, uma figura que tem sua importância na versão cinematográfica e do cebolinha (Silvio Guindano), o piloto do monomotor que serve as demandas de Gomez.
O contexto abordado pelo longa-metragem, tem suas nuances ficcionais com um estilo da literatura de José Louzeiro, ou seja uma história policial com corpo e escopo. Os roteiristas Rodrigo Lages, oriundo de séries de TV e Rafael Dragaud de “Dias e Noites” (2008) e o próprio Sergio Rezende fizeram da história um chão para pensarmos a realidade brasileira das fronteiras e de lugares interioranos onde o coronelismo ainda é a instituição da lei e da ordem. Impossível, para um espectador mais informado, não lembrar de casos de desmandos havidos no Acre nas décadas de 80 e 90, como o do assassinato de Chico Mendes em Xapuri; e do poder e do terror que representava Hildebrando pascoal,o deputado da Motosserra; e ainda o assassinato da freira Dorothy Stang em Anapu, no Pará em 2005. A história tem pé no chão, e obviamente, uma ênfase na dramaturgia para se situar no seu nicho, que é a comercialidade. Mas, que é um bom personagem conceitual para pensar essas questões, lá isso é.
Em relação aos aspectos cinematográficos o diretor Sergio Rezende de “O Homem da Capa Preta” (1986);”Lamarca” (1994); “Guerra de Canudos” (1997) e “Zuzu Angel” (2006) tem bom tino para a inserção inteligente de questões políticas e trabalhou bem, aparentemente, a dosagem entre o criticismo e o entretenimento. A trilha sonora de Pedro Bronfman de “Narcos” e a fotografia de Nonato Estrela andam de mão dadas. Mas quem está soberbo é Chico Diaz como o facínora da fronteira.
Resumindo, “Em Nome da Lei” é uma produção nacional que nos remete a uma mistura de “Narcos” com “O Homem que matou o Facínora” numa vibe de romance policial. Com um roteiro que faz pensar, e com um elenco global para atrair o grande público, que provavelmente, sairá satisfeito. Enfim, tecnicamente uma boa produção.
Adorei o filme. Nestes tempos de filmes americanos, cultuando o ideal americano, ver um filme nosso, bem feito e no gênero que mais gosto, suspense policial, é uma maravilha. Que venham outros no mesmo nível e pra cima!!! Viva o cinema Brasileiro!!!