‘Entre Laços’ a versão japonesa sobre identidade de gênero

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‘Entre Laços’ a versão japonesa sobre identidade de gênero

Por | 2018-07-11T03:38:46-03:00 11 de julho de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Entre Laços (Karera ga honki de amu toki wa/Close Knit) (Drama); Elenco: Tôma Ikuta, Kenta kiritani, Rin Kakihara; Direção: Naoko Ogigami; Japão, 2017. 127 Min.

Temos um imaginário social do Japão, pela distância cultural, de frieza e indiferença para tudo o que envolve o emocional e suas vertentes. Pelo olhar de nossa cultura acalorada, temos uma ideia da cultura milenar, racional, tecnologizada, disciplinada e distante da ternura, da doçura e do acolhimento. A cineasta Naoko Ogigami nos traz uma história terna e cheia de candura dentro de um contexto polêmico: a identidade de gênero. O que, por nossa ignorância cultural, talvez pensássemos não haver alguém corajoso o suficiente para abordar tal temática de forma pública e de alcance de massa, como  é o cinema, naquela sociedade. Ledo engano, “Entre Laços” traz uma história de amor maternal, fraternal e de ensino de convivência e respeito às diferenças.

Rinko-san (Tôma Ikuta) é uma mulher trans que divide a vida com Makio (Kenta Kiritani), juntos formam uma família. Um certo dia, a irmã de Makio abandona sua filha menor, Tomo (Rin Kakihara), e o tio não tem escolha a não ser levar Tomo para casa e apresenta-la a Rinko-san. Essa situação proporciona a Tomo o mais nobre dos ensinamentos: o respeito às diferenças e as individualidades. E didaticamente, Naoko Ogigami faz isso com o espectador ao longo da exibição. O ponto de vista é o da menina na sua jornada de convivência, matando suas curiosidades de criança, que muitas vezes também é a do espectador. Mostrando o quanto o amor maternal e fraternal independe de convenções sociais e desconstruindo uma série de ‘pre-conceitos’ a cerca da questão. A transversalidade sobre o preconceito e a dor que ele causa e a maneira com a qual se escolhe lidar com ele é a azeitona da empada dessa produção. Naoko Ogigami conduz essa história através de roteiro e direção com uma ternura que extrapola a tela. Assim como em “Lola Pater”, que também versa sobre identidade de gênero quando uma mulher trans se apresenta como pai de um filho adulto dentro da cultura árabe, “Entre Laços” quebra paradigmas ao trazer a questão dentro da cultura japonesa.

Ganhador de prêmios importantes mundo afora, como: o prêmio especial do juri do Festival de Berlim; o prêmio do juri de melhor filme no Madri International LGBT Film Festival;  melhor filme no QCinema International Film Festival e no Queer Lisboa; e prêmio do juri de melhor narrativa no The Tel Aviv International LGBT Film Festival. O longa que tem Tôma Ikuta – premiado no Kinema Junpo Awards por “Ningen Skikkakku” (2010) – no papel de Rinko-san, e que o faz soberbamente, é dirigido por uma japonesa de chiba, que complementou seus estudos de cinema na Califórnia e foi premiada várias vezes em Berlim.

“Entre Laços” é uma grata surpresa vinda de onde não se espera. Sem o peso da violência do preconceito, mas falando sobre ele. Se detém especificamente, no aprendizado que rege uma relação entre diferentes, e o faz com ternura. O viés condutor da abordagem do roteiro é que é o forte do filme japonês.  Vale assistir em qualquer tempo, o longa é para ser aplaudido de pé pela sua pegada sutil e genial.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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