Era uma vez em Nova York (The Immigrant). (Drama/Romance); Elenco: Marion Cotillard, Joaquin Phoenix, Jeremy Renner; Diretor: James Gray. USA, 2013. 120 Min.
Um retrato da imigração na América do norte do início do século XX. Um voo rasante sobre a situação das mulheres desamparadas, sem família e sem recursos, da época. Um raio X da sociedade norte americana no contexto da lei seca e da instituição da máfia de Joseph Bonanno, Frank Costello e Vito Genovese, costurada por uma rivalidade entre dois homens pelo amor uma mulher. Esse é o panorama do mais recente filme de James Gray “Era uma vez uma vez em Nova York”, The Immigrant (no original).
A trama gira em torno das personagens Ewa (Marion Cotillard), Magda (Angela Sarafyan) que são irmãs, e veem da Polônia para América fugindo do contexto europeu pós primeira guerra. Com os pais mortos tragicamente durante o evento bélico, as duas irmãs contatam os tios em Nova York e partem num navio para realizar seu sonho americano. Na chegada, Magda é internada por conta de uma tuberculose e Ewa fica a contar com a sorte para não ser deportada. Quando encontra Bruno Weiss (Joaquin Phoenix), um judeu, também imigrante, que ganha a vida como cafetão. Oferece ajuda a Ewa e a história começa cheia de táticas e golpes de sobrevivência. Em troca da cura e retirada da irmã do hospital (ilha) Ewa aceita se prostituir, sem o menor talento para a coisa. Ate que conhece Emir/ Orlando, o Mágico (Jeremy Renner) e encanta-se logo de cara. A rivalidade é imediata, pois Emir tem antecedentes com Bruno. E dessa forma James Gray brinda o espectador com uma história cheia de signos e camadas contextuais, do social ao psicológico, do filosófico ao antropológico, do real à mais pura arte.
Diretor conhecido e premiado por seus filmes com histórias intrincadas, sensíveis e inteligentes. James Gray é um americano filho de imigrantes e criou uma narrativa poética em torno do sofrimento, do desejo de liberdade e do sonho americano. Ovacionado com “Fuga para Odessa” (Leão de prata no festival de Veneza de 1994), já abocanhou o premio do juri no Festival de Cannes (2013) e outros com “Era uma Vez em Nova York”.
Marion cotillard, oscarizada como melhor atriz por “Piaf – um hino de amor”, está brilhante no papel de Ewa Cybulska. A expressividade e o sofrimento é destilado pelo olhar, pelas expressões, pelas mãos e um corpo quase que paralítico. Joaquin Phoenix, premiadíssimo em festivais, e ganhador do Globo de ouro por “Walk Line” e conhecido, mais recentemente, por sua interpretação espetacular em “Ela” está arrebatador nos afãs de agressividade da personagem, que são absolutamente extraordinários. Dentre os primores que não podem deixar de ser aplaudidos estão a fotografia sombria, amarelada e nebulosa, que quase emite cheiro, do iraniaino Darius Khondji e a composição de violinos de Christopher Spelman na trilha sonora, inspirados em árias de Puccini e Verdi, que são de chorar.
A obra é uma radiografia do submundo da Nova York da década 1920 e nos remete ao cenário da primeira parte da trilogia de “O poderoso chefão” de Francis Ford Coppola, com uma direção de arte bem parecida. E ainda faz um passeio filosófico/existencial/psicanalítico sobre os diferentes tipos de amor, sobre a obsessão e o ódio. Nos traz uma amostra de uma alma nefasta e dominadora, a de Bruno e nos apresenta o conceito de dor, culpa, tristeza e vergonha da personagem de Ewa através de uma representação imagética espetacular.
Para finalizar, o filme é uma obra primorosa nos aspectos narrativos, técnicos e artísticos. É uma jornada sobre pequenos vínculos e laços entre seres humanos, tão necessários e presentes na vida de todos nós. Um desfile de talento e arte para ninguém botar defeito.
Primeira versão originalmente publicada no Almanaque Virtual
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