Estados Unidos Pelo Amor

>>Estados Unidos Pelo Amor

Estados Unidos Pelo Amor

Por | 2017-01-08T16:32:55-03:00 8 de janeiro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Estados Unidos Pelo Amor (Zjednoczone Stany Milosci/United State of Love) (Drama); Elenco: Julia Kijowska, Magdalena Cielecka, Dorota Kolak, Marta Nieradkiewicz; Direção: Tomasz Wasilewski; Polônia/França, 2016. 106 Min.

Falar do universo feminino não é nada fácil, nem entre as próprias mulheres. O que dizer, então, de “Estados Unidos Pelo Amor”, um filme que aborda os estados de alma de mulheres no âmbito da vida afetiva/sexual? O que dizer de um filme com este tema e com esse peso dirigido por homem  de 33 anos? Que, simplesmente, estereótipos e prognósticos foram feitos para constar em discursos maniqueístas, estatísticas e para serem derrubados. E que, contra todos esses aspectos  Tomasz Wasilewski conseguiu. Acertou a mão, com uma visão e sensibilidade de tirar o chapéu. O filme é majoritariamente polonês em co-produção com a França e versa sobre as expectativas femininas no amor. Sem se propositar a ser um conto de fadas, o longa se detém na realidade sombria das carências de quatro mulheres. Quatro histórias que se entrelaçam e que habitam, magistralmente, o campo da dor, tanto no roteiro quanto nos aspectos técnicos – a fotografia – e que não se proposita a explicar, mas ajuda a entender a alma feminina e o mundo paradoxal que habitamos/criamos/construímos.

551242-jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxx

Agata(Julia Kijowska) é uma mulher casada, jovem e infeliz. Sexualmente insatisfeita procura em seu companheiro o que quer sem ser compreendida. Iza (Magdalena Cielecka) é uma mulher madura que mantém um relacionamento com um homem casado. Marzena (Marta Nieradkiewicz) , é irmã de Iza . Jovem, separada e em apuros com sua investidas para ser feliz. E, por fim, Renata (Dorota Kolak) uma senhora de meia idade, só e em vias de se aposentar que nutre uma admiração maior que o usual por Marzena, às voltas com uma solidão não produtiva. Esse é o arcabouço da história que Tomasz Wasilewski nos traz como roteirista e diretor, uma viagem pelos desejos secretos dessas mulheres, pelas expectativas em suas relações afetivas e sexuais e unidas pelos esse estados de alma e nesse território.

kijowska

Com uma fotografia gelada e fosca de Oleg Mutu, pela qual foi indicado ao Sapo de Ouro do Camerimage, “Estados Unidos Pelo Amor” nos lembra  “A Gangue” (2014) de Myroslav Slaboshpytskyl. O filme não é pornográfico, nem softporn, não traz nada explícito. Mas , o que está implícito através dos silêncios e dos olhares gritam mais que o mais longo discurso e faz um passeio pelo deslocamento da mulher no mundo. E o recorte é a dissonância, o não-encaixe, o querer não realizado. E o oposto: a forma como o patriarcado vê e trata a mulher. Sem nenhuma apologia ao feminismo e sem tocar em termos chavões como o machismo, o longa simplesmente passeia pelo cotidiano de mulheres comuns. Para tanto o destaque vai para as atuações de Julia, Magdalena, Marta e Dorota que estão  magistrais. Mas o Crème de la crème são os diálogos. E este recebeu o Urso de Prata de melhor script do Festival de Berlim.

z19597638v

Tomasz Wasilewski, esse polonês balazaquiano, diretor de “Arranha-céus Flutuantes” (2013) deu um show na visão sobre a alma feminina. Mostrou um olhar para a dor, carências e vontades mudas admirável. Sua pegada de abordagem nos faz lembrar a vibe de Xavier Dolan, diretor canadense, igualmente jovem, que tem um aproach ousado e sem pudores. Num mundo que é tido como desconhecido e até menor – o das mulheres – Wasilewski mostrou uma bordagem precisa e inteligente, sem apelações e realista.

zjednoczone_4

“Estados Unidos Pelo Amor” é uma tentativa bem sucedida de leitura silenciosa dos olhares femininos e um painel da dor, do sofrimento e das frustrações da mulher, sem ser um filme melodramático ou chato. Ambientado num contexto  pós derrubada do muro de Berlim e de recente desocupação da Polônia, mostra na metáfora dessas mulheres um país ansiando por uma vida nova e por um futuro feliz. Vai saber até que ponto  a história também e uma metáfora política. O que interessa, de fato, é que o filme é genial para o que se proposita mais diretamente.

berlinale2016_srebrnyniedzwiedz_mos_8154_fot_marcin_oliva_soto

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

Deixar Um Comentário