Estive em Lisboa e Lembrei de Você

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Estive em Lisboa e Lembrei de Você

Por | 2018-06-17T00:28:26-03:00 4 de julho de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Estive em Lisboa e Lembrei de Você (Drama); Elenco: Paulo Azevedo, Renata Ferraz; Direção: José Barahona; Brasil/Portugal, 2015. 94 Min.

Baseado no livro homônimo de Luiz Ruffato, o longa-metragem dirigido por José Barahona é uma radiografia específica da migração brasileira para Europa e macrocosmica da realidade imigrante no continente europeu. E veio a calhar, num momento de grande movimentação de refugiados de guerra e xenofobia naquele continente. Logo, o filme  é uma boa oportunidade para se pensar a questão.

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Sergio (Paulo Azevedo) é um jovem rapaz que depois de um casamento fracassado e uma alienação parental decide sair de Cataguases e ir para a Portugal refazer a vida para, mais tarde, voltar para o Brasil em condições melhores. Lá chegando encontra todas as dificuldades típicas de quem não conhece  a cultura, os costumes, os códigos comportamentais e a legislação local. Além de se envolver com uma imigrante brasileira, Sheila (Renata Ferraz), que trabalha no baixo meretrício da cidade. O diferencial de “Estive em Lisboa e Lembrei de você” é a conversa de Sérgio com o espectador, o que dá ares de relato de experiência sem a menor pretensão de final feliz, simplesmente uma história em andamento, como a própria vida. Onde não se sabe o que acontecerá na próxima esquina. É uma história pé no chão, mostrando os conflitos internos, a saudade, o ajuntamento de brasileiros que procuram trazer um pouco de casa para o estranho lar.

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A direção e o roteiro ficaram por conta de José Barahona, cuja característica de trabalho reside entre o documentário e a ficção. Em sua filmografia, se destaca o documentário com ares de ficção “Manuscrito Perdido” (2010). “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” é uma ficção com ares de documentário e é seu primeiro longa-metragem no estilo. Sendo imigrante português radicado no Brasil, Barahona faz o caminho inverso ao que fez em sua vida pessoal, com jeito quase que de pesquisa. Tendo como referencial a obra de Luiz Ruffato, um legítimo Cataguesense, que venceu na vida como escritor – para usar a expressão do fio condutor da história – e que é considerado, hoje, um dos destaques da literatura contemporânea brasileira, o filme é uma mistura de adaptação literária, algum resquício de experiência pessoal e pesquisas descompromissadas através de conversas.

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Em relação às tecnicalidades, a fotografia de Daniel Neves de “José & Pilar” (2010) azulada, nebulosa e seca nos traz a alma de Sergio. E sua solidão é desenhada pela narrativa em primeira pessoa, sempre voltada para o passado numa atuação contida e competente de Paulo Azevedo. O narrador deixa a marca de sua alma na  crença no humano, na ingenuidade e registra, sutilmente, a prisão do homem – humanidade –  nas garras do capitalismo selvagem, desconstruindo esse sonho imigrante. O contexto lembra o filme “Samba” (2014) de Olivier Natache e Eric Toledano com Omar Sy que também relata um caso de imigração para a Europa, só que aqui  é da Nigéria para a França.

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Em suma, “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” é um excelente personagem conceitual para pensarmos cotidianos, aquilo que nos acontece e como reagimos e as táticas possíveis de serem usados , ou aquelas que conseguimos enxergar. O longa-metragem de Barahona não fecha com respostas prontas e o usual final feliz. Ao contrário, ele insinua a continuidade da vida, sendo administrada instante por instante, de acordo com o que ela nos apresenta. Para quem gosta de cotidianos é uma boa pedida.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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