Força Maior (Force Majeure / Tourist). (Drama); Elenco: Johannes Kuhnke, Lisa Love Kongsli, Vincent Wettergren, Clara Wettergren; Diretor: Ruben Östlund; Suécia/França/Noruega, 2014. 120 Min.
Se é o que se é. Essa premissa é bem marcada no filme “Força Maior” do Sueco Ruben Östlund. No qual o casal Tomas (Johannes Kuhnke) e Ebba (Lisa Love Kongsli) , vão passar as férias nos alpes franceses com os filhos menores. Aproveitam a ocasião para estarem juntos, como não conseguem estar durante a vida secular. Porém, o estar junto implica em conhecer a si e dar-se a conhecer aos outros. E é sobre esse tema que “Força maior” conversa com o público.
Rubem östlund que, além de dirigir, também roteiriza o filme, coloca como estopim para a reflexão proposta – a saber: as expectativas que depositamos nos outros – uma avalanche nos alpes. Em que o pai sai correndo e deixa os filhos à mercê dos cuidados da mulher. Uma situação padrão em que todos os olhares se voltariam para a proteção dos que não são capazes de tomar decisões sozinhos – as crianças – Tomas falha aí, no que se espera padronizadamente. Não se cogita expectativas caprichosas ou circunstanciais, mas de sobrevivência. E o pai se torna alvo de uma enxurrada de críticas, questionamentos, especulações, ilações e fabulações, que envolvem o espectador. As conversas em cena, são conversas com o espectador, assim como ele – o espectador – também é soterrado pela avalanche.
A partir daí, as divagações sobre o ocorrido são argumentados de diversos pontos de vista – o da esposa, o das crianças, o dos amigos, o do próprio autor – discutidos e analisados. Surgem os discursos que reinventam a realidade, as dissimulações que “reconstroem” o que se quer, o corporativismo, a ilusão do pai herói e o tapear-se a si mesmo. A abordagem do velho cristal que se quebra, o da admiração, o da confiança e o da segurança/proteção. Tudo isso é imagetizado cirurgicamente por Rubem Östlund. São conceitos abstratos, passíveis de “n” devaneios e percepções díspares, numa linguagem aberta como a imagética, em que Rubem trabalha de uma forma precisa e num crescente. Lembra-nos o estilo, sem dó nem piedade, de Michael Haneke, e a faquinha que cutuca até sangrar, de Lars Von trier. Mas se mantém no âmbito das conversas e considerações subjetivas sem culminâncias. É uma verdadeira aula de filosofia sobre “quem achamos que somos e o que somos de fato, e até onde somos capazes de admitir o que somos”.
“Força maior” foi o escolhido da Suécia para a pre-seleção do Oscar 2015 e foi indicado ao Globo de Ouro, na categoria de melhor filme estrangeiro, não levou. Mas possui 25 premiações em festivais, dentre elas: melhor roteiro e melhor filme no Festival de Sevilha 2014, e o prêmio do júri da mostra “Um certo Olhar” do Festival de Cannes do mesmo ano. Diretor, atores, cinematografista e compositor não são conhecidos do grande público brasileiro, mas fizeram um trabalho belíssimo, com destaque para a fotografia de Friedrik Wenzel em que os pequenos viventes estão inseridos num mundo gélido, branco e morto, Mas, iluminado, e à medida que a história avança, a opacidade vai tomando conta, metaforizando brilhantemente a relação de Tomas e Ebba numa imensidão de nada.
Em suma, é um filme para quem gosta de lentidão, de conversas, de atuações emotivas e reflexão sobre as fragilidades do ser humano e não tem problemas em brincar com pontos de vista. É um aulão existencialista.
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