Francofonia

Francofonia

Por | 2016-09-05T22:12:05-03:00 5 de setembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Francofonia: Louvre Sob Ocupação ( Francofonia); (Documentário/Drama/História); Elenco/participações: Louis-Do de Lencquesaing, Benjamim Utzerath, Vincent Nemeth, Johanna Korthals Altes; Direção: Aleksandr Sokurov; França/Alemanha/Holanda, 2015. 98 Min.

Vencedor da categoria de melhor filme europeu no Festival de Veneza 2015 “Francofonia” de ALeksandr Sokurov faz o percurso da história da humanidade através do acervo do Museu do Louvre, na França. Se detendo, mais especificamente, no período da ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial, o longa-metragem relata outra batalha, a da manutenção das obras de arte milenares durante o conflito bélico através das possíveis, conflagrações retóricas entre Monsieur Jacques Jaujard (Louis-Do Lencquesaing) e Herr Franz Wolff-Metternich (Benjamin Utzerath), respectivamente, o curador do Louvre à época e o curador da Europa, designado pelo comando do exercito alemão. O filme de Sokurov nos remete em seu título á alma francesa da musicalidade de sua língua e nos mostra o DNA da humanidade através de um acervo cultural inestimável.

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“Francofonia” se divide, enquanto narrativa, em três vertentes: a da História do Museu do Louvre, desde o processo pelo qual as obras chegaram àquele lugar;  a da reconstituição da época da ocupação alemã com a ficção das conversas entre os dois curadores; e o espaço de poesia em que uma personificação do espírito da França através de Marianne (Johanna Korthals Altes) e da personagem de Napoleão Bonaparte (Vincent Nemeth) nos ciceronizam entre as obras do museu, dentre elas aquelas em que ele, Napoleão, consta. “Francofonia” não só está sob a batuta de Sokurov na direção e roteiro como também tem sua participação na atuação e na narração do longa. É ele quem narra a história e apresenta de forma solta a maneira com a qual as obras de arte eram transportadas e ainda são, em alto mar, sujeitas a todos os tipos de intempéries da natureza. Abrindo um espaço de reflexão interessante sobre o esforço e as perdas nesse setor. Os pedaços dessa narrativa de três nipes são truncados e estanques, amalgamados pelas obras de arte autênticas que desfilam pela telona numa aura difícil de ser ver no cinema e as imagens de arquivo da época da ocupação alemã em 1940, tanto filmes quanto fotografias. O que torna o filme um instrumento de registro histórico.

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Sukorov é um aclamado diretor russo, mais conhecido por “A Arca Russa” (2002) e “Fausto” (2011) e que traz para o espectador um fio do estilo questionador ‘Eisensteiniano’ e nos possibilita viajar pela História, pela imaginação e pela poesia. Quando faz a ficção dos possíveis diálogos entre os curadores ele nos remete ao filme “Diplomacia” (2014) em que se conjectura o que pode ter acontecido para que Paris não fosse bombardeada durante a ocupação alemã. Indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza tem na fotografia e na edição seus pontos fortes. Na fotografia assinada pelo francês Bruno Delbonnel as conexões de similitudes entre as imagens reais e as ficcionais merecem destaque. Lembrando que Delbonnel foi indicado a 4 Oscars, entre eles, por: “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” (2001). Quanto a edição do alemão Hanjörd Weissbrich de “Trem Noturno para Lisboa” (2013), é ela que faz o patchwork entre os três nipes escolhidos para contar a história num trançado difícil, mas interessante.

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Produzido pela França, Alemanha e Holanda “Francofonia” tem no elenco Loius-Do de Lencquesaing de “Caché” (2005) de  Michael Haneke e “Vincent Nemeth de “Capital Humano” (2013) e tem uma conexão complementar com “Caçadores de Obras-Primas” (2014) em que uma organização de resgate de obras de arte em risco busca pelas obras sequestradas do Louvre pelo exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. “Francofonia” é uma jornada, cujo senhor é o tempo e a sinfonia são as diversidades idiomáticas (francês, inglês, alemão e russo). Uma viagem pelo que o ser humano produziu de extraordinário como registro de existência e um lampejo da importância do cuidado dessa produção. Sokurov nos mostra a selvageria humana em contraponto com o que o ser humano pode produzir de mais sublime. E também, não perde a oportunidade de mostrar como o exército alemão empacou na França. Possivelmente, pelo poder de impactação da arte, isso inclui o patrimônio  arquitetônico. Sokurov nos leva por uma aventura de impactação da alma humana e nos diz o quanto o cinema ainda é importante no quesito conscientização.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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