Galeria F

Galeria F

Por | 2018-06-17T00:51:40-03:00 5 de abril de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Galeria F (Documentário/Biografia/Drama); Participação: Teodomiro Romeiro dos Santos; Direção: Emília Silveira; Brasil, 2017. 83 Min.

Teodomiro Romeiro dos Santos foi um preso político à época da ditadura militar brasileira que, condenado à pena de morte e posteriormente à prisão perpétua protagonizou uma fuga mostrando a fragilidade do sistema prisional em pleno regime mão de ferro. 47 anos depois a cineasta Emília Siveira de “Setenta” (2013) conta a história desse homem, ou melhor, empunha uma cãmera para que ele mesmo o faça. Feito esse que merece ser visto e ‘re-visto’.

O documentário é um passeio, em tom de intimidade, pelos anos de chumbo, pelo martírio que passou Teodomiro,  e de sua fuga desesperadora. O Longa percorre o  mesmo caminho feito por Teodomiro em 1979 quando fugiu da Penitenciária Lemos de Brito na Bahia. Relatado pelo, admiravelmente lúcido, senhor da história, em tom de roda de conversa e ao lado do filho, a narrativa revira o baú maldito da ditadura e escarafuncha episódios e dores. O longa-metragem conta, também, com recortes dos jornais escritos da época e imagens de arquivo dos telejornais.

Não é a primeira vez que a cineasta Emília Silveira aborda a época da ditadura em seus trabalhos. Em 2013 ela dirigiu “Setenta” um documentário no qual constam relatos de experiência de torturados políticos do mesmo período histórico. Uma das características do trabalho de Emília é deixar o convidado à vontade com liberdade para narrar e expressar-se. A cena em que Teodomiro anda de um lado para o outro na cela em que outrora esteve preso é quase que um transporte no tempo e no espaço, percebe-se a ausência momentânea de Teodomiro. “Galeria F” consegue transmitir a sensação de claustrofobia e de liberdade. Os filmes de Emília Silveira são de manutenção de memória, mas não só de memória histórica, mas de memória cotidiana. Aquela que tem que ser fustigada para não deixar esquecer. Outra característica interessante de “Galeria F” é que é roteirizado, produzido e editado por mulheres: Margarida Autran, Juliana Domingos e Joana Collier, respectivamente. Talvez por isso esse caminhar sensível, lento  e expurgador de dores.

“Galeria F” nos mostra o quanto a resiliência é importante. “Galeria F” nos diz que ninguém faz do outro o que quer. “Galeria F” grita que a força da vida está com o que fazemos com aquilo que fazem conosco. O longa é um documentário para assistir se sentindo participante da roda de conversas. Para a nova geração então, é obrigatório e absolutamente necessário.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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