Grandes Olhos

Grandes Olhos

Por | 2018-06-16T23:46:28-03:00 3 de fevereiro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Grandes Olhos (Big Eyes). (Biografia/Drama); Elenco: Amy Adams, Christoph Waltz, Krysten Ritter; Diretor: Tim Burton; USA/Canadá, 2014. 106 Min.

Enquanto Georgia O’Keeffe é lembrada por suas flores, Margaret Kane o é pelos seus grandes olhos, Temas diferenciados que caracterizaram as obras pictóricas de duas mulheres que se expuseram no mundo das artes, em épocas diferentes, Georgia O’Keefe (1887-1986) durante o início do século XX  e Margaret Kane em meados do mesmo século, mas foram contemporâneas em algum momento de suas trajetórias. A citação se justifica por alguma semelhança na história de ambas, mas também por terem sido retratadas em filmes, Georgia O’Keeffe em “Vida e Arte de Georgia O’Keeffe” (2009) de Bob Balaban e Margaret Kane em “Grandes Olhos” (Big Eyes – no original) de Tim Burton.

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O filme conta a história de uma artista plástica autodidata, interpretada por Amy Adams que na década de cinquenta, numa sociedade protestante e moralista, decide se separar de seu primeiro marido e sobreviver com sua filha, de sua arte, a pintura de quadros cujo tema eram crianças e seus olhos, “seus olhares”. Conhece então, Walter Kane (Christoph Waltz) que viria a ser seu segundo marido e agente. E que usurpa seu talento e ingenuidade, que beira às raias da falta de senso. É esse recorte de tempo e de acontecimentos que os roteiristas Scott Alexander e Larry Karaszewski resolvem abordar. A saga do relacionamento e da criação artística de Margaret, o fim de sua relação com o marido e a descoberta do seu poder de decisão sobre sua vida.

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“Grandes Olhos” é uma grata surpresa no conjunto da obra  de Tim Burton. Com uma cinematografia vasta de estilos, que vai de “Edward Mãos de tesoura” (1990), passando pelo fantástico e extraordinário com “Peixe grande e suas histórias maravilhosas” (2003) ao escalafobético com  “A fantástica fábrica de chocolate” (2005), um remake da primeira versão de 1971, e ainda, a trilogia Batman:  “Batman”(1989), “Batman – o retorno” (1992) e “Batman eternamente” (1995) – como produtor. Tim Burton sempre manteve os pés no soturno, no aterrorizante, no macabro com graça. Com “Grandes Olhos” dá vazão ao seu lado leve e cotidiano com sensibilidade e competência. E continuando no âmbito das gratas supresas, Amy Adams e Christoph Waltz, foram outras. Amy, após interpretar Louis Lane, a namorada do repaginado Superman de Zack Snyder e a vigarista  Sidney Prosser de “Trapaça” de David Russell, dá vida a Margaret Kane e ganha seu segundo Globo de Ouro de melhor atriz. Mas, impagável mesmo, esteve Christoph Waltz. Vencedor de dois Oscares como ator coadjuvante, por: “Django Livre” (2012) e “Bastardos Inglórios” (2009), deu um show interpretando Walter Kane, e roubou a cena do tribunal, na qual tinha que se defender das acusações da ex-companheira e não tinha advogado. Mas, escondido entre as reproduções das obras de Margaret Kane e de atuações magnânimas, está o figurino.  Assinado por uma figurinista pra lá de oscarizada  – “Alice no país das maravilhas” (2010); “Memórias de uma Gueixa” (2005) e “Chicago” (2002)-  Calleen Atwood,  que também fez o figurino de “Caminhos da Floresta” (2014) é figurinha carimbada nas melhores produções americanas.

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Por tudo isso “Grandes Olhos” é um filme que se destaca sem precisar gritar muito. Não está concorrendo a Oscar algum, mas faz o registro de uma  biografia esquecida e que tem sua importância para o mundo das artes plásticas. E é feliz quando propõe contar a história de Margaret Kane a partir da metáfora do lhe faltava, a do olhar,  e da abertura dos olhos para a vida e suas armadilhas, através do tema de suas obras.

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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