Homem Comum. (Documentário/Drama); Participações: Nilson de Paula, Jane, Liciane; Direção: Carlos Nader; Brasil, 2014. 103 Min.
Ganhador de dois festivais É tudo Verdade, consecutivos, (2014/2015), Carlos Nader é um diretor e roteirista, produtor e fotógrafo que entretece linguagens que vão de documentários a videoarte. É um ensaísta do acaso e de todos os subterfúgios do cotidiano, cujas temáticas passam por identidade, sensação de tempo e relação do homem com a câmera, e reconhecido nacional e internacionalmente pela sua qualidade técnica, plástica e narrativa. Em “Homem Comum” Nader faz uma viagem no tempo na vida de um homem, interfere diretamente na documentação e não esconde que o projeto era uma coisa e se tornou outra. Carlos Nader documenta a vida com seu movimento de mudanças de percurso costurado por uma pergunta cabal: Qual o sentido da vida?
“Homem Comum” é um registro de como o homem não-erudito, o homem ordinário se relaciona com a vida. Como ele a vê e como sintetiza e sistematiza o que vive, ou não. Tudo começa em 1995 quando Nader vai para a beira da estrada, em postos de gasolina, nos quais os caminhoneiros param para abastecer, se aproxima de um deles, ganha confiança, segue viagem junto fazendo perguntas bobas, quando ganha intimidade, vaticina: Você não acha a vida um sonho? Um absurdo? Qual o sentido da vida? O registro das expressões que Nader captura é um presente. A partir dessas experiências, o documentarista conhece Nilson de Paula, um caminhoneiro que acompanha até 2012. A câmera de Nader esteve presente nos momentos mais significativos de sua vida: da infância de sua filha às chegadas em casa depois de longos períodos viajando; do falecimento de sua esposa ao segundo relacionamento; do nascimento de sua netinha até a sua partida dessa viagem sem sentido. Tudo isso analogizado com o filme “A Palavra” (Ordet, 1955) de Carl Theodor Dreyer, justapondo dezessete anos da vida de Nilson com as duas horas de ficção, do filme que é considerado a obra -prima desse poeta/cineasta dinamarquês.
A metaforização da vida de todos nós através da estrada, o registro de conversas sobre aspectos da vida e seus episódios; as considerações e interferências do próprio documentarista, é uma experiência, para dizer o mínimo. A pegada do documentário no registro da tentativa de controle da vida, e suas retumbantes reviravoltas, nos fornece um painel filosófico espetacular e material para estudo do cotidiano. Carlos Nader também dirigiu “Eduardo Coutinho, 7 de Outubro” (2013) e “A Paixão de JL” (2014), dentre outros. Com “Homem Comum” ganhou o prêmio de melhor documentário do Festival É tudo Verdade e o prêmio da categoria da ABRACCINE, além de ter sido exibido em vários festivais.
“Homem Comum” é um documentário que imagetiza o paradoxo da vida e a dor silenciosa de viver entretecido por conversas e embalado pela musica “Cio da Terra” de Milton Nascimento, na trilha sonora composta por Daniel Zimmerman, e é para quem gosta do humano e seu território de atuação, a vida.
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