Jackie (Drama); Elenco: Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Greta Gerwig, Billy Crudup, John Hurt, Caspar Phillipson; Direção: Pablo Larraín; Chile/França, 2016. 100 Min.
Enfim Pablo Larraín fez alguma coisa mediana, se compararmos com a sua contundência em “Post Mortem” (2010), “No” (2012), “O Clube” (2015) e até mesmo “Neruda” (2016) que, apesar de ser eivado de humor, deixa escapar um viés político sagaz. Jackie, nesse sentido, decepciona. Percebe-se, obviamente, que embora o contexto seja a política, o viés é pessoal e de um recorte de tempo muito específico – da morte ao funeral de John Fitzgerald Kennedy – presidente dos Estados Unidos de 1961 a 1963. Logo, realmente, não dá para ser abrangente num espaço desses. Então ficaram de fora, já que o foco é Jacqueline Kennedy, a importância de sua imagem pública, os referências que a cercavam – moda, decoração, cultura, etiqueta, beleza e estilo de vida – Larraín e Noah Oppenheim (roteirista) optaram pelo relato da dor do momento e a forma com a qual Jackie reagiu, ou seja, as nuances de personalidade da ex-primeira dama dos Estados Unidos da America.
Nada que desqualifique as habilidades do diretor conhecido por sua competência nas abordagens escolhidas, inclusive na profundidade delas sem nenhum pudor – vide “O Clube” – nem que desabone a atuação de Natalie Portman – indicada ao Oscar pelo papel – ao contrário quanto mais contrito e fechado e restrito em seu espaço de atuação emocional mais se exige do ator em prestar atenção aos detalhes e se expressar através deles. A questão é que as decepções estão proporcionalmente ligadas ao nível de expectativas. E, em se tratando de Jacqueline Lee Bouvier Kennedy, ter altas expectativas é considerado normal. E aí reside a coragem de Pablo Larraín em dissertar sobre uma personagem tão importante e conhecida e ousando uma linha diferente de abordagem a que estamos acostumados a ver em seus trabalhos. Isso vale também para Natalie Portman, atriz conhecida por papeis importantes como a Padmé de “Star Wars” e que tem um leque de diversidade em atuações que vão de “Vila Sésamo” (2004) a “V de Vingança” (2005) e oscarizada por “Cisne Negro” (2010). Os destaques vão para a produção do longa com uma reconstituição dos interiores da Casa Branca, à época, impecáveis; e para o figurino e direção de arte. Ganhador de 33 prêmios mundo afora e indicado a três Oscars (Melhores: atriz, figurino e canção original), “Jackie” possivelmente tenha chances em figurino.
Mas o cerne da questão é o roteiro de Noah Oppenheim de “Maze Runner: Correr ou Morrer” que, preso aos momentos pós-morte do então ex-presidente da América, brinca com o tempo e os fatos saltando de lembranças a relatos, através de flashbacks e da entrevista que Jackie dá ao jornalista (Billy Crudup) para a escrita de sua biografia oficial. Esse passeio de ida e volta faz o espectador montar sua própria maneira de ver os fatos sem o engessamento da linearidade. E ainda viaja, competentemente, pelos desvios do que é verdade e do que é performance, e mais, da diferença entre relações em que há o afeto e humanização e aquelas em que só há o exercício das relações de poder.
O filme em si chama a atenção para a ex-primeira dama como tal, oferecendo uma abordagem emocional. Mas que se ancora na morte de John Kennedy, a reação da família, da imprensa e dos políticos americanos, sob o olhar de uma mulher famosa, bonita e com dois filhos pequenos num momento de fragilidade. Aquela imagem do ícone Jacqueline Kennedy não existe em “Jackie”. E, talvez, não fosse para existir já que o recorte de tempo é bem específico. Por conta disso o título bem que poderia ser outro, mas não chamaria tanto público quanto “Jackie” que, sem dúvida, é mais comercial. E no fim ficamos à espera da Jackie que a gente achava que conhecia e ela não vem. Então, é isso. É o cinema chileno co-produzido pelos Estados Unidos na lógica americana. Agora, Oscar?!…. apesar da boa atuação Natalie Portman tirar o Oscar de Emma Stone de “La La Land: Cantando Estações” à altura do campeonato só se for milagre ou zebra.
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