Julieta (Drama); Elenco: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Enma Cuesta, Bimba Bosé, Priscila Delgado, Rossy de Palma; Direção: Pedro Almodóvar; Espanha, 2016. 99 Min.
O vigésimo longa-metragem de Almodóvar é comportado. Oscarizado por “Fale com Ela” (2002) e agraciado com vários prêmios ao longo de sua carreira, entre eles a Palma de Ouro e o Goya (o Oscar espanhol), o aclamado cineasta mergulha no universo feminino, como sempre. Mas, não o espalhafatoso e sexualizado, ele o faz envolto em silencio,o mergulho é contido e tímido na dor de uma mãe que não vê sua filha há doze anos e mostra toda a administração de suas dores ao longo da vida. Baseado em três histórias curtas de Alice Munro, “Chance”, “Soon” e “Silence” todas de 2004, Almodóvar manteve com “Julieta” sua palheta de cores fortes e sua intensa poesia imagética, que é característico de sua obra.
Julieta (Emma Suárez) é uma mulher silenciosa e triste que se prepara para mudar-se de Madri para Portugal com o namorado Lorenzzo (Dario Grandinetti), quando encontra uma amiga de infância de sua filha Antia (Priscilla Delgado), Bea (Bimba Bosé). A partir desse encontro repensa sua decisão e se dá um tempo para escrever suas memórias e se reencontrar. Se explicar para si mesma, ao mesmo tempo que deixa os escritos como um legado para Antia. A história contada por Almodóvar faz um relato em primeira pessoa da vida de uma mulher desde sua juventude até o momento presente, passando pelo matrimônio e a maternidade. Almodóvar depois de tantas abordagens intensas e temas polêmicos como em “A Má Educação” (2004) e “A Pele em que Habito” (2011) aborda a criação de identidade de uma mulher que sofre em silêncio. O longa-metragem é um painel dos resultados de mal entendidos, de armistícios feminino e dos estragos que uma língua ferina pode fazer. Com um elenco majoritariamente composto por mulheres, o longa só tem dois homens com papeis significativos: Dario Grandinetti e Daniel Grao como Xoan Feijóo – marido de Julieta – todo o restante são mulheres e suas relações entre si: de patroa e empregada, de rivais, de mãe e filha, de amigas e tal; e a abordagem é a do mundo emocional complexo da mulher na sua condição de genitora.
Sendo um dos cineastas mais proeminentes de Espanha, Pedro Almodóvar foi indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes por “Julieta” e ganhou o prêmio de melhor diretor pelo longa no International Cinephile Society Awards 2016. Estrelado por Emma Suárez de “La Mosquitera” (2010) e Adriana Ugarte de “Palmeiras na neve” (2015) o filme traz como referências “O Inverno da Alma” (2010) de Debra Granik e “O Abrigo” (2011) de Jeff Nichols. E ainda, uma trilha sonora sentimental e com músicas de raízes espanholas sob a batuta de Alberto Iglesias de “O jardineiro Fiel” (2005) e uma fotografia estonteante assinada por Jean-Claude Larrieu de “A Vida Secreta das Palavras” (2005).
O mais bem comportado e contido filme de Pedro Almodóvar é uma viagem pelo mundo feminino, seus mistérios e complexidades de alma. E é mais uma vertente desse olhar desnudante de Almodóvar. Não é dos seus melhores filmes, mas vale o ingresso.
Editado em 15/07/2016 por conta da colaboração da leitora Francine G. Murara.
Não seria o 20º filme dele??
Olá Francine, tem toda razão. Infelizmente eu contei com dois curta-metragens que Almodóvar fez. Um em 1985, “Amantes de lo Prohibido” para o programa La Edad Del Oro e o outro foi “A Vereadora antropófaga” de 2009. Julieta é o vigésimo longa metragem do cineasta. A correção já foi feita e tem um crédito pra ti no final. Obrigada!