Koblic (Drama/Thriller); Elenco: Ricardo Darín, Oscar Martinez, Inma Cuesta; Direção: Sebastian Borensztein; Argentina, 2016. 92 Min.
Ambientado na década de 70 sob os resquícios de uma das ditaduras militares mais sangrentas da América Latina, “Koblic” dirigido por Sebastian Borensztein e roteirizado por ele e Alejandro Ocon contam a história de um capitão da marinha que deserta por não conseguir cumprir as ordens de serviço da época do autoritarismo em relação aos subversivos do regime político. A partir desse estopim o longa aborda os silenciamentos, a tensão, o poder arbitrário e suas consequências na vida das pessoas num regime de exceção e depois dele.
Koblic (Ricardo Darín) depois de desertar do serviço militar como capitão piloto da Marinha vai para as pradaria de Colonia Elena trabalhar como pulverizador de plantações e sob a proteção de um amigo. Age com discrição, mas toda interação humana deixa rastros e sendo procurado pelo serviço de inteligência, logo chama a atenção de Velarde (Oscar Martinez), o “coronel” e prefeito da cidadezinha. O ano é 1977, a ditadura já havia se encerrado, mas os resquícios dela continuam vivos, nas ações de administração, de exercício de poder e no medo. E ainda gera consequências na vida das pessoas. Sebastian Boresztein consegue impor uma tensão e um silenciamento que extrapola a tela e invade a sala de cinema. A história não é contada ela é sentida.O trabalho de contar essa história com flashes e sem narrativa oral é brilhante. Exatamente como num regime de exceção onde nada se diz, mas tudo é percebido. Este é o grande trunfo do filme e sua consideração final é a de que, independente de se participar ou não, esta realidade muda as pessoas.
A abordagem do tipo de punição dada aos subversivos nos remete aos métodos da ditadura chilena referenciados em “O Botão de Pérola” (2015). A abordagem das consequências de uma ditadura na mente e na alma do indivíduo nos lembra “Pecados Antigos, Longas Sombras” (2014) cujo contexto são as consequências da ditadura espanhola. Sem dar nome aos bois e sendo visceral o diretor argentino Sebastian Boresztein de “Um Conto Chinês” (2011) e o roteirista Alejandro Ocon, mais conhecido por séries de TV local, dão conta do recado e contam um história forte, cujo empoderamento está no que não se diz: o medo nos olhares, o despotismo que passeia pelas ruas sem precisar ser narrado, explicado, ou sequer, metaforizado.
Ricardo Darín, que dispensa apresentações está magistral, juntamente com Oscar Martinez que faz uma dupla com uma química excelente. O que se destaca é a edição de Pablo Blanco, ganhador do Goya por “Las Brejas de Zugarramurdi” (2013) e Alejandro Carrillo Penovi de “O Clã”, pela forma com a qual contam essa história com associações de imagens. A trilha sonora de Federico Jusid de “El Secreto de Sus Ojos” (2009) é uma perturbação incômoda de uma nota só que parece um zumbido de inseto que não dá paz, numa homogeneidade forçada que diz mais que um longo discurso.
“Koblic é um excelente catalisador para se pensar direitos humanos e regimes de exceção e o quanto esses tentáculos invadem as relações sociais, profissionais e pessoais. “Koblic” é um desfile silencioso da vileza humana exercida com prazer para além de qualquer regime político. …..Ah! O cinema argentino!!!!!
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