Setenta (Documentário). Diretora: Emília Silveira. Roteirista: Sandra Moreyra. Brasil, 2013. 96Min.
Os sequestros políticos realizados pela organização armada MR-8 (Movimento Revolucionário oito de outubro) e pela ANL (Aliança Nacional Libertadora) contra a ditadura brasileira à época do regime militar já foi tema de filme nacional de sucesso, inclusive valendo uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998. Refiro-me a O que é isso companheiro? (Bruno Barreto, 1997) que aborda a versão dos sequestradores do, então, embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick em setembro de 1969. Já Setenta de Emília Silveira traz à tona um outro sequestro de autoria do mesmo grupo. Esse em 1970 do, também embaixador, só que dessa vez da Suíça, Giovanni Enrico Bucher. A novidade é que esse documentário traz fatos, versões, lembranças e imagens dos presos políticos que foram negociados na troca pelo embaixador.
A obra traz relatos e depoimentos de dezoito dos setenta presos políticos em primeira pessoa e em close, identificando os entrevistados pelos seus nomes reais e organização da qual faziam parte. Imagens jornalísticas e pessoais da época, de notícias de jornal, do embarque para o exílio no Chile. O objetivo, segundo a produção do documentário foi mostrar quem são, o que pensam quarenta anos depois, como vivem hoje com as sequelas das torturas, o que mudou e o que ficou dos devaneios da juventude.
Diretora e jornalista de documentário e programa de TV, jornalista agraciada com o prêmio Esso e dirigindo seu primeiro longa, Emília Silveira contou com a ajuda de Sandra Moreyra, jornalista, editora e roteirista de documentários para a televisão, como o Globo Repórter, e ganhadora do prêmio Embratel de Jornalismo cultural, para a realização do roteiro de Setenta.
Sobre a trajetória em festivais, é para ser respeitada, principalmente em se tratando da categoria documentário, que não dá tanto Ibope quanto a ficção. Ganhou o prêmio do júri popular de melhor Longa-metragem e prêmio especial do júri no Festival de Aruanda de 2013 em João Pessoa; participou do Festival do Rio 2013, na mostra fronteiras; da Mostra de Cinema Internacional de São Paulo de 2013; do 4º FEMCINE Festival Cine de Mujeres de 2014 no Chile; do 16º Festival Brasileiro de Paris em 2014 e vai para o festival de Documentários em novembro desse ano.
A obra cinematográfica de cunho jornalistico/histórico faz, quase que, um inventário das organizações de esquerda do Brasil à época, e coloca em voga quem tem razão e/ou se ela existe num regime de exceção. Transformando-se assim, num instrumento e tanto de reflexões sobre versões e pontos de vista. Lembrar, de vez em quando, é bom para não repetir a história, ou pelo menos, detectar o cheiro de repetição quando ele assim se apresentar.
Deixar Um Comentário