Leviatã (Leviathan). (Drama); Elenco: Aleksey Serebryakov, Elena Lyadova, Roman Madyanov, Vladimir Vdovichenkov; Diretor: Andrei Zvyagintsev; Russia, 2014. 140 Min.
A terra de Einsenstein, Dziga Vertov e Andrei Tarkovsky continua produzindo obras políticas e filosoficas questionadoras. Mas não é só isso, como se não fosse o suficiente. “Leviathan” de Andrei Zvyagentsev é uma viagem pela alma humana, suas ambições, necessidades, desejos e sua capacidade de criar e recriar conceitos vitais ao convívio em sociedade, ao bel-prazer dessas subjetividades.
“Leviathan” conta ahistória do fim. Do fim da pureza, da justiça, do amor e da verdade (se é que algum dia ela existiu). Nikolay (Aleksey Serebryakov) é um aldeão morador de uma vila de pescadores, praticamente abandonada, que luta nos tribunais contra a prefeitura que desapropriou suas terras, para a construção de um complexo hoteleiro. A partir desse contexto, Andrei Zvyagentsev faz um passeio, conectando aspectos políticos, religiosos, culturais e subjetivos como: o amor, a criação de filhos, a amizade, além dos aspectos éticos e filosóficos. Tudo isso posto numa grande fôrma, a sátira política.
A alma da história é a remetência aos Leviathans : o monstro aquático da mitologia fenícia, citado no livro de Jó e bem personificado pela Igreja Ortodoxa russa, e o monstro do cientista político Thomas Hobbes que escreveu um livro homônimo no século XVII e cuja figura literária é a de um político totalitarista que concentra todo o poder em si, o eclesiástico e o civil, possivelmente, aqui, personificado em Mer (Roman Madyanov), o prefeito que subverte verdades e reconceitua a justiça.
A menina dos olhos de “Leviathan” é o roteiro e a fotografia. Em relação ao primeiro, é de uma costura primorosa, que vai acrescentando camadas de assuntos sem se chocarem entre si e sem sobrar pontas desnecessárias. Não é atoa que Andrei Zvyagentsev e Oleg Negin ganharam o prêmio em Cannes 2014. Em relação à fotografia de MiKhail Krichman, a mesmice das cores, o tom sempre igual que não muda independente dos estado de alma, nos remete a uma angustia sufocante, uma realidade que não pode ser sobreposta ou vencida. Ganhou o sapo de ouro do Camerimage 2014 e Melhor fotografia no Festival de Sevilla, do mesmo ano.
Mas, com tudo isso a conjetura mais interessante vem agora. Indicado ao prêmio máximo do cinema mundial, o Oscar (2015) na categoria de melhor filme estrangeiro, “Leviathan” já levou o Globo de Ouro 2015 na mesma categoria, dentro da casa do Tio Sam. Quem diria? A uns trinta anos atrás isso seria impensável. Pois é, o tempo passa, as coisas mudam e hoje, o rincão do cinema político que insuflava a revolução socialista através do “Encouraçado Potemkin” de Einsenstein, está com tudo na terra símbolo do capitalismo, invadindo o pedaço com questões viscerais sobre corrupção politica, processos de instituições de verdades, sobre ética pessoal e inversão de conceitos.
Pois é, para fechar, “Leviathan” é um filme que prende o espectador do começo ao fim sem precisar de plot twist. Um primor político e filosófico, divertido até onde se propõe e emocionante ao mesmo tempo. É… quem te viu e quem te vê. Da-lhe Einsenstein! Que venha o Oscar, só para o banquete ficar completo, camarada! Viva a revolução! (rsrs)
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