Made in China

Made in China

Por | 2018-06-16T23:35:25-03:00 5 de novembro de 2014|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Made in China (Comédia); Elenco: Regina Casé, Juliana Alves, Otávio Augusto; Diretor: Estevão Ciavatta. Brasil, 2014. 96 Min.

(Contém spoilers)

Existe um ditado popular que diz que: “de onde não se espera é que sai”. Este adágio, possivelmente, poderia ser aplicado a”Made in China” de Estevão Ciavatta. Acostumados, que estamos, a extensões  de programas de humor que invadem o cinema, esperava-se mais uma comédia pastelão, sem nenhum conteúdo, com piadas gratuitas e furtivas e sem nenhuma lógica, como já vimos tantas vezes. E, é  no quesito lógica que “Made In China” surpreende. Falando da invasão dos produtos chineses no Brasil, e mais especificamente, no centro comercial popular carioca mais conhecido da cidade – o Saara – o filme aborda a questão, fazendo críticas sobre impostos, custos e o contexto econômico no qual  se encontra os que comercializam pagando suas taxas  e  produzindo para o país. E aventa o argumento de máfia e concordância do poder público com essa realidade cruel para economia local, rindo, fazendo graça, com muito funk e pagode sem que o espectador perceba que está sendo levado a pensar, mesmo que superficialmente sobre a questão.

143343.jpg-c_520_690_x-f_jpg-q_x-xxyxx“Made in China” é mais um produto brasileiro com cara de povão e para povão. Os códigos ali estabelecidos delineiam sua contextualidade, o vocabulário coloquial, as gírias locais, as músicas, os artistas populares da televisão brasileira, o próprio centro comercial, território da mistura de culturas e criação da identidade nacional, pois ali se misturam imigrantes de outros países, cariocas, nordestinos e toda a sorte de costumes que seres sociais agindo em seu cotidiano são capazes de criar. E esse é o segundo mote de “Made in China” seguindo as pegadas da teoria de Jorge Mautner sobre sermos, nós brasileiros, a fórmula para a paz mundial com nossa mistura de raças, culturas, religiões, músicas, e todos os possíveis aspectos a serem misturados por seres humanos que vivem numa terra “abençoada por deus” como diria outro Jorge , o Benjor. E corroborando com esse raciocínio, o núcleo dos chineses, os que não se misturam, são fechados ao novo e resistentes a aculturação da nova terra, nos é negado até  o entendimento. Não há legendas em português. O filme parece bobo mas tem umas significações interessantes, que instigam, que nos fazem cercarmo-nos de questionamentos. Além, é claro, do mantra do pisca-pisca, que não está ali por acaso nem para “encher linguiça” ele também foi feito para pensarmos, nem que seja por osmose.

china-fE por falar em Jorge, o enredo é construído em torno da lenda de São Jorge e o dragão. A casa de Seu  Nazir (Octávio Augusto) chama-se São Jorge e a casa de Seu Chao (Tony Lee) chama-se dragão. A batalha campal se dá com muita  música, piada, mistura de raça e mistura de cor.

filmes_9416_made_in_china_2Na questão cinematográfica, quem merece ovações pela costura são as roteiristas Patrícia Andrade de “Gonzaga: de pai pra filho” (2012), “Besouro” (2009) e “2 filhos de francisco…”(2005) e premiada como melhor roteiro com “Salve Geral” (2010) no Festival de filmes de Natal; e Rosane Lima de “Bendito fruto” (2004) mas, mais afeita a séries de TV como “Carga Pesada”.  Regina Casé , pra variar está impagável, quase que no papel de si mesma e com o humor já conhecido do público. Tudo orquestrado por Estevão Ciavatta em seu primeiro longa para cinema, com o recheio de aculturação dos povos, miscigenação de raças,  sincretismo religioso, as táticas do cotidiano, a ginga brasileira e um a mensagem de respeito e convivência com as diferenças.

china-aNão há interesse nem filosófico, nem político, nem sociológico, mas que dá uma beliscadinha nessas áreas com um funk ao fundo e um sorriso deslavado na cara, lá isso dá.

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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