Malala

Por | 2018-06-17T00:08:11-03:00 19 de novembro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Malala (He Named me Malala). (Documentário); Participantes: Malala Yousafzai, Ziauddin Yousafzai, Toor Pekai Yousafzai, Khushal Yousafzai e Atal Yousafzai; Direção: Davis Guggenheim; Emirados Árabes Unidos/USA; 2015. 88 Min.

“One child, one teacher, one book and one pen can change the world” (Malala)

“Malala” é o mais recente documentário do cineasta americano Davis Guggenheim, que conta a história do Prêmio Nobel da Paz mais jovem da história, Malala Yousafzai, de 17 anos. Produzido pelos Emirados Árabes Unidos, juntamente, com os EUA, o documentário tem três camadas mais obvias de abordagem. A da orientação educacional e familiar, com o fomento e direcionamento, para que ela fosse diferente; a da crença de Malala em suas ideias e a luta por suas convicções e  a do chancelamento de organismos hegemônicos transformando a luta de Malala em algo para fora do âmbito educacional. Essas janelas são abertas no documentário de Davis Guggenheim a começar pelo título original “He Named me Malala”.

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Malala é uma adolescente que foi baleada propositalmente pelas forças radicais do Islã dentro de um ônibus escolar em 2012, na aldeia de Swat Valley no Paquistão. E cuja história comoveu o mundo. O que Guggenheim faz é buscar a origem de toda essa história, e começa pelo nome, dado por seu pai; registra o processo de relato do cotidiano paquistanês por Malala para a BBC de Londres, sob pseudônimo, através de um blog; elucida o contexto de politização e engajamento do pai de Malala e sua influência sobre a mesma; e traça, ainda o caminho de institucionalização dessa imagem como a de um símbolo, culminando no discurso na ONU e no recebimento do prêmio Nobel da Paz em 2014.

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Os instrumentos que Davis usou para contar essa história foram: sequências de Live Action criados pelo Instituto de Artes da Califórnia sob a batuta de Jason Carpenter, que auxilia no didatismo necessário ao entendimento das questões, as entrevistas com os irmãos, que desenham o ambiente em família, as entrevistas da própria Malala com perguntas agudas como: Seu pai não induziu você? e suas brilhantes e invejáveis convicções, aquelas que só os jovens têm.

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Davis Guggenheim, ganhador do Oscar de melhor documentário por “Uma Verdade Inconveniente” (2006) soube amarrar muito bem os caminhos da criação de argumentos deixando janelas para ventila-las, que também servem para reflexões e questionamentos sem parecer arrogante ou manipulado. Porém, a grande e máxima contribuição para o documentário ser o que é vem da trinca de editores: Greg Finton, Brad Fuller e Brian Johnson, todos do olimpo. Greg foi indicado por melhor edição de documentário por “Waiting for Superman” (2010) no American Cinema Editors; Brad indicado ao prêmio da categoria no Cinema Eye Honors pelo documentário musical “Every Little Step” (2008); e Brian indicado ao mesmo premio por “Buena Vista Social Club” (1999) no American Cinema Editors e Satellite Awards.  O cuidado de costurar o Live Action do mito Malalai – o histórico – com o Mito Malala em cinematografia é primoroso e suave. Ou seja o investimento em contar uma história imageticamente poderosa foi grande. A fotografia também está no pacote, ela é assinada por Eric Roland do National Geographic Explorer, que ganhou o Emmy pelo Doc “The Secret Life of cats” no New & Documentary Emmy Awards.

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Pois é, ver “Malala” pede que seja com os dois olhos, o do romantismo que acredita num mundo melhor e no purismo, e o do criticismo. “Malala” é um produto da criação do mito Malala. Difícil não lembrar do mito de Mockingjay (Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1) em que todos os passos da criação da lenda são seguidos. E o mais bonito é que o herói acredita piamente na pureza de sua missão. O mito Malala, hoje, tem braços estendidos não somente para e educação, como também para a defesa do direitos da mulheres em todas as culturas ao redor do mundo, e por que não, combater o extremismo islâmico. Muito principalmente depois de abençoada com o aval das instituições hegemônicas representadas pelos comitês Sueco e Norueguês de reconhecimento de avanços culturais.

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“Malala” é um belo registro da possibilidade de sonhar e fazer alguma coisa pelo mundo, circulando entre os ‘usos’ que podem ser feito disso pelos outros. O Documentário já ganhou o prêmio do público de melhor filme de gala no Festival de San Diego e foi indicado a melhor filme político no Festival de Hamburg. Numa frase? É uma obra perspicaz.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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