‘Mamãe, mamãe, mamãe’ e o mundo feminino

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‘Mamãe, mamãe, mamãe’ e o mundo feminino

Por | 2020-11-05T17:56:57-03:00 25 de outubro de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Mamãe, Mamãe, Mamãe (Mamá, Mamá, Mamá/Mum, Mum, Mum) (drama); Elenco:Siumara Castilho, Agustina Milstein, Chloé Cherchyk, Camila Zolezzi, Matilde Creimes Chiabrando; Direção: Sol Berruezo Pichon-Riviére; Argentina, 2020. 65 Min. #MostraInternacionaldecinemadesaopaulo2020 #44mostra @mostra

Os filmes argentinos já têm uma digital própria. Sempre que pensamos ou falamos em cinema argentino vem à mente filmes densos, intrincados, potentes e contundentes, eivados de surpresas procedentes em seus roteiros, com temas ousados mesmo que sutis. O que não significa que não hajam filmes com outros estilos, mas que, o que se vende para o mundo tem um outro tipo de abordagem. Na contra-mão dessa ‘vibe’ a cineasta argentina de 24 anos Sol Berruezo Pichon-Rivière traz um filme sensível, lento, silencioso com cara de cinema francês que versa sobre o mundo das emoções femininas. “Mamãe, Mamãe, Mamãe” é um painel do universo feminino envolvendo quatro gerações de mulheres com papeis sociais distintos (avó, mães, filhas, primas, irmãs) e a digital de emoções bem própria desses papéis sociais, associada a eles com um viés circunstancial específico.

Numa casa de veraneio em uma reunião de família em que há somente mulheres acontece o afogamento de Erin, a menina mais nova. A mãe em desespero toma todas as providências, enquanto isso a tia se encarrega de proteger as filhas e a sobrinha daquela dor e, mesmo da noção do que aquilo significa. O roteiro se detém na espera dessa mãe desolada, da administração desta dor sob os olhares dessas adolescentes observadoras que vivem seus momentos próprios da idade, numa mistura entre sensualidade, alegria, vontade de viver e respeito à dor da família. O roteiro leva o espectador a acompanhar o olhar dessa irmã que ficou só e da observação desta da dor que sua mãe sente.

“Mamá, Mamá, Mamá” (no original) tem em seu título quase que uma metáfora de chamamento de um filho que precisa de sua mãe que, mesmo presente está ausente pela sua dor. E essa é vivenciada de formas diferentes por todos ao seu redor. Uma dor que é feminina. O longa apresenta interpretações de sensações e sentimentos muito subjetivos e que se dão pelo olhar. Olhar das personagens para a dor alheia e olhar do espectador sobre os olhares interpretativos que ali são postos, fomentando prismas diferentes dessa dor no espectador de acordo com suas redes de significações. O filme é uma ode ao silêncio e à observação, incitando a capacidade de empatia de todos nós.

O longa é primeiro trabalho na carreira da cineasta argentina e nos remete ao filme turco “Cinco Graças” (2015). O longa recebeu menção especial do juri da seção Generation Kplus no festival de Berlim e foi seleção oficial no festival de San Sebastian, Na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo concorre na ostra novos diretores.

  • Filme assistido em cabine da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. #44mostra @mostra

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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