Mapas para as Estrelas

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Mapas para as Estrelas

Por | 2015-02-26T17:56:41-03:00 26 de fevereiro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Mapas para as Estrelas (Maps to The Stars).(Drama); Elenco: Julianne Moore, Mia Wasikowska, John Cusack, Robert Pattinson; Diretor: David Cronenberg; USA/Canada/Alemanha/França, 2014. 111Min. #festivaldorio2014

Sexo, drogas, tragédia, fama, poder, dinheiro, soberba, cobiça, segredos, inveja, necessidade de exceder os limites, prazer desenfreado, sem cercas ou muros. Esses são os temas abordados no filme “Mapas para as Estrelas” do canadense David Cronenberg. A ambientação é o mundo de Hollywood e seus meandros cotidianos.

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A história possui dois núcleos que se cruzam. A busca implacável de Havana Segrand (Julianne Moore) por um papel num filme da Broadway, e a saga da procura pelos laços familiares de Agatha Weiss (Mia Wasikowska). Nesse contexto jorram segredos, invejas, sordidez, dissimulações, num jogo de gato e rato fantástico. A família de Agatha possui um segredo tenebroso que desencadeia uma série de ações inescrupulosas.   E como numa maldição “Lynchiana”, a história secreta e proibida se repete na vida de Agatha, e tem-se um Romeu e Julieta Hollywoodiano pra ninguém botar defeito. Possivelmente, até Shakespeare aplaudiria.

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David Cronemberg, afeito a histórias de desvios psicológicos, explorando os medos internos e  as transformações de personalidade e mesmo físicas como em “A mosca” (1986), e os caminhos pelos quais passam o inconsciente, traça um perfil, quase que sociológico, de Hollywood.  Conhecido por “Marcas da Violência (2005) dentre outros, com “Mapas para as estrelas” faz um análise apreciativa do mundo hollywoodiano, sem devaneios e de forma contundente. No elenco, a hoje oscarizada por “Pra Sempre Alice” (ainda não está em cartaz no Brasil) , Julianne Moore,  também conhecida pelo recente  “Jogos Vorazes : A esperança – parte 1” onde interpretou a presidente Alma Coin. Outro conhecido ator, John Cusack  (Stafford Weiss) de “O mordomo da Casa Branca” (2013), e Robert Pattinson, o eterno vampiro de “O crepúsculo”, além de Mia Wasikowska  de “Amantes Eternos”, que está divina no papel de menina desprotegida e perigosa. Quanto aos meandros técnicos, a trilha sonora  é do Howard Shore da saga “O Senhor dos Anéis”,  ganhador de três Oscares e que dá o tom do verniz necessário  à sobrevivência em Hollywood, sem a menor introspecção, sempre jogando o espectador para fora, como numa pista de dança sob os holofotes. A fotografia é do polonês Peter Suschitzky de “Star Wars V – O império contra-ataca” e merece destaque a diferença de iluminação e de estilo dos ambientes que designam, silenciosamente, a personalidade e os meandros psicológicos das personagens em cada núcleo, como a casa de Stafford Weiss (a família com segredos escabrosos), num clean sombrio com exacerbos de preto, branco e cinza, em contraposição à casa de Havana.

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Como em “A cidade dos Sonhos” (2001) e ” Império dos Sonhos” (2006) de David Lynch, em que a crítica ao submundo hollywoodiano, vai de perda de identidade, lascívia, luxúria, dominação econômica, ideológica, segredos, e jogos de interesses. Em “Mapas para as estrelas” Cronenberg faz o mesmo, com o roteiro de Bruce Wagner de “Luta de Classes em Bervely Hills” e “A hora do pesadelo 3” com uma costura muito mais seca e pé no chão, sem os devaneios espiritualistas de Lynch. Porém, recheado de metáforas imagéticas belíssimas, como o ajoelhar-se na calçada da fama, diante da assinatura de uma atriz, e ali proferir, quase que uma oração, um  “Mantra”; Filosofar sobre o que se quer de fato sob o letreiro, em letras garrafais, de HOLLYWOOD;  e a cena de Havana Segrand no banheiro usando o vaso sanitário (que cena!) e que, ao contrário do que possa parecer, não foi desnecessária, e traduz tudo o que a película, possivelmente, queira dizer sobre os seres humanos e sua impáfia.

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David Croneberg com sua obra de reflexão primorosa acerca de Hollywood e seus interstícios, possivelmente, nos lembre que, independente da fama e do glamour, nós, seres humanos, somos imperfeitos, temos segredos, sujeiras e um demônio interno que nenhum verniz disfarça, e que todos, todos nós, vamos ao banheiro. Logo, somos todos iguaizinhos….Soberbo!

  • panorama do cinema mundial#festivaldorio2014.

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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