Maravilhoso Boccaccio

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Maravilhoso Boccaccio

Por | 2018-06-17T00:24:53-03:00 10 de maio de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Maravilhoso Boccaccio (Maraviglioso Boccaccio). (Comédia/Drama/História); Elenco: Kim Rossi Stuart, Miriam Dalmazio, Fabricio Falco, Melissa Bartolini; Direção: Paolo Taviani e Vittorio Tavianni; Itália/França, 2015. 120Min.

Baseado no livro “Decamerão” de Giovanni Boccaccio, uma obra do século XIV, “Maravilhoso Boccaccio” é um painel das dez jornadas compostas pelas cem novelas escritas pelo poeta e crítico literário, considerado o precursor do realismo na literatura universal. O filme dos irmãos Taviani (Paolo e Vittorio) pinça seis histórias que versam sobre as relações humanas em diversos aspectos: sobre a amizade, a lealdade, a essência humana, o amor carnal e suas armadilhas: o incesto velado, o amor de vitrine  e todos os enganos a que nos expomos vivendo. Essa empreitada sintética apresenta a um público mais heterogêneo e menos afeito a leituras clássicas, o brilhantismo e o vanguardismo de Giovanni Boccaccio.

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No século XIV, mais especificamente em 1348, em plena epidemia da peste negra, dez jovens resolvem fugir da cidade e do risco de contágio, indo para uma estalagem ou estância. Lá se organizam nas tarefas do cotidiano e para passar o tempo se revezam contando histórias de amor. São seis ao total retiradas das jornadas de “Decamerão” e que imagetizam, possivelmente, seu processo de disseminação ao longo da história da cultura oral. Influenciado por contos efésios  e versões da tradição oral, Boccaccio teve o privilégio de ser o primeiro a registrá-las por escrito. “Decamerão” é uma narrativa recontada e contextualizada para a linguagem de seu tempo (século XIV) tornando as histórias conhecidas da época, mais complexas e eivadas de camadas, como a de Calandrino (Kim Rossi Stuart), por exemplo.

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Os diretores Vittorio Taviani e Paolo Taviani, conhecidos por seus filmes políticos e, sabidamente, influenciados por Rossellini, tem no currículo uma Palma de Ouro e um FIPRESCI por “Pai Patrão” (1977); Um grande Prêmio do Juri de Cannes por “A Noite de São Lourenço” (1982) e um Urso de Ouro do Festival de Berlim por ” César Deve Morrer” (2012). Do alto de seus oitenta e sete e oitenta e cinco anos, respectivamente, trazem para o cinema uma socialização da obra de Boccaccio para o grande público. Um movimento de aproximação das massas do primeiro grande realista da literatura universal, e não só, mas o grande responsável por renomear a obra-prima de Dante Alighiere “A Comédia” para “A Divina Comédia”, tamanho o fascínio de Boccaccio diante da obra de Dante. Fascínio esse, que o fez tornar-se um grande especialista no autor medieval. Mas a importância do filme dos irmãos Taviani talvez esteja na evocação do patrimônio cultural da literatura italiana e na sua disseminação para o mundo em dose homeopática.

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Com todo esse bojo o filme tem alguns destaques que são tecnicalidades próprias como o figurino, o cenário e as atuações. Essa  bastante teatral nos remetendo a Shakespeare, mas nada que tire a graça de ver no suporte cinematográfico histórias com mais de 700 anos que significaram a ruptura entre a moral medieval – a valorização do amor espiritual – e o início do realismo na literatura mundial, e atestar que continuam sendo tão atuais não tem preço. Para quem gosta do estilo é uma boa pedida.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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