‘Maria e João’ – o viés feminino no conto de fadas

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‘Maria e João’ – o viés feminino no conto de fadas

Por | 2020-02-26T02:13:24-03:00 26 de fevereiro de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Maria e João: O Conto das Bruxas (Gretel & Hansel) (Fantasia/Horror/Thriller); Elenco: Spohia Lillis

A psicologia descobriu para nós que os contos de fadas escondem em seu bojo conexões soturnas e adultas. De um tempo para cá, estamos na era da desconstrução dos contos de fadas, satirizando-os, contextualizando-os com nosso tempo e trazendo luz a aspectos e tabus que existem até hoje. Em “Deu a Louca na Chapeuzinho” (2005) o roteiro satiriza a história tradicional e traz três versões dela, a da Chapeuzinho Vermelho, a da Vovõ e a do lobo. Nada mais justo! Em “Caminhos da Floresta” (2014) os contos são misturados e criam uma salada gostosa, engraçada e que faz pensar no exacerbo do poder de mãe. Ao contrário de “Malévola” (2019). João e Maria também teve seu processo de desconstrução com “João e Maria: Caçadores de Bruxas” (2013) que faz de Maria uma filha de bruxa e de João um diabético. Agora é a vez de contar a mesma história sob o viés das descobertas de Maria sobre si mesma, da elaboração de seu lado feminino, de seu lado sombrio e de sua evolução como mulher.

Num tempo de fome na Idade Média, a mãe de Maria e João enlouquece e os expulsa de casa. Maria, mais velha que João se sente responsável por ele. Mas, para além disso, tem que lidar com talentos especiais, uma intuição aguçada e visões. Encontra, então uma casa cuja mesa é um banquete, e oferece seus serviços domésticos em troca de comida e de um teto para morar. O longa explica a sanha das bruxas, no imaginário coletivo, por fazer de crianças seus manjares e aborda a sororidade (simmm!) em relação ao desenvolvimento de potencialidades femininas e proteção de si, Não é à toa que o título do longa traz o nome de Maria em primeiro lugar. O viés do roteiro é a descoberta de si mesma e a estratégia para o desenvolvimento de seus talentos para o bem.

O crème de la créme de “Gretel & Hansel” (no original) é o roteiro de Rob Heyes, oriundo de séries de TV, que é muito sutil e inteligente em pôr uma adolescente a descobrir-se num contexto sombrio e assombroso. Descoberta essa que é tão assustadora quanto o mundo em que ela vive. Logo, a história é a metáfora de si mesma de modo brilhante. Estrelado por Sophia Lillis de “It: A Coisa” (2017) a obra promete agradar ao público que curte o gênero, pois sua interpretação de Maria é bastante apropriada, tem química com a vibe da história. Outro destaque é a fotografia macabra assinada por Galo Olivares que, fez parte da equipe do filme “Roma” (2018) , cuja fotografia é um primor.

Na linha de desconstrução dos contos de fadas “Maria e João: o conto das bruxas” é uma grata surpresa. Uma produção canadense em conjunto com Irlanda e África do Sul, dirigida pelo novaiorquino Oz Perkins, que ainda não tem pedigree hollywoodiano ter uma abordagem tão inteligente e artisticamente bem acabada como a apresentada. O filme vale cada centavo do ingresso.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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