Memória em Verde e Rosa ( Documentário); participações: Carlinhos do Pandeiro, Jorge Catacumba, Nelson Sargento, Delegado, Cininha, Cici, Guezinha, tantinho da Mangueira; Direção: Pedro Von Krüger; Brasil, 2016. 80 min.
Bem diferente do documentário “82 Minutos” em que o recorte analisado era um desfile dda Escola de Samba no Carnaval do Rio , o longa-metragem de Pedro Von Krüger vai mais longe e conta a história dos ícones da Escola de Samba Mangueira misturado ao cotidiano da comunidade. A linha que costura esses aspectos é o samba como composição e ritmo, como veículo de ‘contação’ daquelas histórias e como caracterizador cultural daquele espaço. Fazem parte desse acervo de memória sambistas que tinham o samba na ponta do lápis, da língua, do pé e no coração. As vedetes são os compositores da velha guarda e quem afina a conversa é Nelson Sargento, Jorge Catacumba, Carlinhos do Pandeiro, Delegado e Tantinho da Mangueira.
“Memória em Verde e Rosa” é um documentário que traz em sua narrativa uma história que explica o jeito da mangueira desfilar. O zigue-zague na avenida vem do caminhar dos moradores com latas d’agua na cabeça ao subir o morro. As narrativas são eivadas de códigos que se caracterizam como marcas da história da comunidade em seu fazer cotidiano, são histórias e costumes culturais muito bem articulados. Traz Cartola, D. Zica, e D. Neuma como fantasmas benfazejos que são a marca registrada da Mangueira, numa costura poética muito bonita. Mas, a maestria não está no registro da memória e sim na analogia competente em mostrar o que era uma escola de samba há quarenta anos atrás e o que é hoje.O que era o samba e o que é hoje. O que era o carnaval e o que é hoje: uma industria sem nenhuma tradição. E diz tudo isso de forma lenta, natural, cuja narrativa vai desenhando essa metamorfose. Uma metáfora de como essa mudança aconteceu de forma gradual e imperceptível, e agora, irreversível.
Memória em Verde e Rosa” é um relato de experiência de vida que lembra o passado e preserva a História. E poeticamente, é uma digital de alma sobre como se sente o homem comum – na escrita do samba – sobre sua forma de ver a vida e como a interpreta. Tudo isso vindo de gente do povo sem grande formação acadêmica. É de uma conexão com o conotativo muito especial. Ali estão registradas suas realidades, seus modos de ver e sentir.
Quanto a Pedro Von Krüger com esse nome alemão é baiano de Salvador e dirigiu “Pulmão da Arquibancada” (2012). E aí está explicada a ginga com a câmera e com o roteiro de Alípio do Carmo. A edição assinada por Marília Moraes de “Maresia” também mandou muito bem com os recortes e colagens da entrevistas que trançaram essa rede de assuntos. O documentário sobre uma das mais tradicionais, senão a mais tradicional, Escola de Samba do Rio de Janeiro é preservação de memória. E é melhor registrar mesmo antes que o capitalismo selvagem acabe com tudo. Já que é inevitável, que pelo menos se use a oportunidade para contar uma bela história e mostrar uma vida rica de subjetividades. Vale o ingresso!
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