‘Meu Primo Inglês’ uma narrativa imigrante

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‘Meu Primo Inglês’ uma narrativa imigrante

Por | 2020-08-27T03:59:08-03:00 27 de agosto de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Meu Primo Inglês (Mon Cousin Anglais/My English Cousin) (Documentário); Participação: Fahed Sayad; Direção: Karim Sayad; Suíça/Catar/Argélia, 2019. 82 Min.

A co-produção suíça, Catarense e Argelina “Mon Cousin Anglais” (no original) é uma recorte de tempo e reflexões na vida de Fahed Sayad. Um imigrante argelino que vive na Inglaterra desde os anos 2000. Portanto, ambientado e acostumado à sua rotina. Porém, como todo cidadão que não pertence à uma cultura, saudoso da sua. O diretor é o primo Karim Sayad que o acompanha em sua rotina repetitiva, em suas reflexões sobre sua vida, seus desejos, suas insatisfações e suas fantasias sobre o retorno ao seu país e às suas raízes. “Meu Primo Inglês” é uma jornada de conflito interno e um viés bastante dissonante do imaginário social acerca da imigração.

Fahed Sayad vive na Inglaterra há quase duas décadas. Feliz, sem questões religiosas, culturais ou sociais. Tem amigos e liberdade. Apesar de trabalhar 50 horas semanais e viver uma vida repetitiva e insossa. Sente falta de sua família e se organiza para voltar. Depois desse tempo todo fora Fahed é mais inglês do que argelino. Logo, se preocupa com presentes e outras tantos detalhes que fazem mais parte do lugar e momento que vive do que para onde está voltando. Lugar do qual já perdeu bastante do referêncial. Ao retornar não consegue se encaixar. Não consegue emprego e é cobrado – relembra porque saiu – tem que casar pelos costumes culturais, sem conhecer a noiva e é cobrado pelas mulheres da casa. Fahed é um homem com uma crise de identidade cultural imensa e fica num vai e vem sempre acompanhado por Karim. O registro desse processo de reconhecer-se culturalmente pertencente um lugar que, pelo imaginário socio-cultural, não deveria ser o seu, é magistral. Principalmente, sendo Fahed um árabe. Karim faz esse registro através de diálogos, silêncios e takes de socialização de Fahed com seus amigos. Suas expressões de alegria, sofrimento, expectativa, apreensão, decepção etc. E essa naturalidade de ação cotidiana de Fahed registrada pelas câmeras de Karim, não nega: Meu primo é inglês.

Karim Sayad é um diretor suíço conhecido por “Of Sheep and Men” (2017). E dessa vez, com “Meu Primo Inglês” (2019) foi Seleção Oficial no Festival de Toronto e agora faz parte do catálogo de exibição do 8º Panorama Digital do Cinema Suíço (ver nota no final do texto). A obra se parece em seu caminhar silencioso com os documentários de Frederick Wiseman pela seu intimismo e o mínimo de interferências, apenas registros sem criação de juízo de valor e muito menos de condução de raciocínio. A presença da Câmera de Karim Sayad leva o espectador junto e em silêncio.

“Meu Primo Inglês” tem um tom pessoal do diretor pela sua ligação com o protagonista da história numa saga de exercício de liberdade de escola e de reflexão que não precisa corresponder a expectativas. è um filme para quem gosta de gente e das questões dissonantes e paradoxais que gente produz. O longa vale o tempo, as sensações e as reflexões que nos provocam.

O 8º Panorama Digital do Cinema Suíço acontecerá de 27/08 a 06/09 na plataforma digital do SESC-SP:

http://www.sescsp.org.br/panoramasuico

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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