Mia Madre

Mia Madre

Por | 2015-10-18T02:46:05-03:00 18 de outubro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Mia Madre (Drama); Elenco: Margherita Buy, John Turturro, Nanni Moretti, Giulia Lazzarini, Enrico Ianiello; Direção: Nanni Moretti; Itália/França, 2015. 106 Min. #FestivalDoRio2015

Nanni Moretti, juntamente com Roberto Benigni, Giuseppe Tornattore, Dario Argento, Tinto Brass e o recém-chegado Paolo Sorrentino, dentre outros cineastas italianos vivos, representam essa leva de profissionais que impingem uma vibe genuinamente italiana às suas produções. No caso de Moretti, bem  sucedido desde o seu primeiro longa em 1978 – “Ecce Bombo” – vem acumulando prêmios como o Leão de ouro por “Sogni d’oro” (1981), o Urso de Prata de 1985 por “La Messa è Finita” e a Palma de Ouro em 2001 por “O Quarto Filho”. Seu viés é a politica, a adaptação literária, o cotidiano e a autobiografia, numa pegada bem leve e sutil. E com “Mia Madre” não foi diferente, falar de morte como continuação da vida com tudo o que lhe acontece, com leveza, não é para qualquer um.

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O fime conta a história de um momento muito especial na vida de Margherita (Margherita Buy), o do processo de partida/morte de sua mãe, Ada (Giulia Lazzarini) e como tudo continua vivo durante o processo e depois. E que independente de qualquer coisa, tem que ser administrado junto com o stress, a dor, o trabalho – Margherita é diretora de cinema e está em pleno vapor nas filmagens – a separação, a filha adolescente do primeiro casamento e o estrelismo do ator principal do filme, Barry (John Turturro) e seu próprio humor e inconstâncias. “Mia Madre” é uma metáfora de atuação e controle, tanto na vida quanto na ficção, a frustrada tentativa de dirigir tudo, de perfeição e até de entendimento do que nos acontece – muito bem representado nas confusões idiomáticas (inglês/italiano) do papel de Turturro. O filme é uma junção de camadas diversas que convergem para um só lugar, a da vida soberana e de que tudo o que vemos, o fazemos parcialmente.

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Nanni Moretti, não satisfeito em criar a história, roteiriza-la (com colaborações) dirigir e produzir, ainda atua na pele do personagem Giovanni, que acompanha a saga até o final. “Mia Madre” levou o prêmio do juri ecumênico de Cannes 2015 por explorar a jornada humana através de novos começos; foi indicado à Palma de Ouro do mesmo festival; ganhou melhor atriz para Margherita Buy no David di Donateldo Awards e do Sindicato Nacional dos Jornalistas italianos; e ainda melhor atriz coadjuvante para Giulia Lazzarini do David di Donatello. Na trilha sonora tem de Arvo Pärt a Leonard Cohen e Nino Rota. O filme dentro do filme que Margherita dirige tem remetências a “Os Companheiros” de Mario Monicelli. Mas, impagável mesmo está John Turturro, um dos diretores de “Rio, Eu Te Amo” (2014), como um americano de ascendência italiana que fala gritando, com destaque para a cena da dança, um mimo.

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“Mia Madre” não é sobre mães, é sobre os filhos e o quanto não sabemos sobre aqueles que nos criaram. E o quanto nos ensinam até quando partem, o quanto deixaram de si em nós sem que percebamos. Para os que as têm vivas (as mães) o filme é uma coisa, para os que já as perderam é outra completamente diferente, e para estes muito mais especial. Nanni Moretti trata a morte como um processo natural, e, possivelmente, nos diz que, a vida é tudo o que nos acontece, inclusive a morte, e o faz com uma leveza admirável.

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  • Festival do Rio 2015 – Mostra Panorama: Grandes Mestres

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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