Mundos Opostos

Mundos Opostos

Por | 2016-12-11T15:48:31-03:00 11 de dezembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Mundos Opostos (Enas Allos Kosmos/Worlds Apart) (Drama/Romance); Elenco:  J.K Simons, Christopher Papakaliatis, Andrea Osvát, Maria Kavoyiannii, Minas Hatzisavvas, Niki Vakali, Tawfeek Barhom; Direção: Christopher Papakaliatis; Grécia, 2015. 113 Min.

O ateniense filho de um cretense com uma sul africana, Christophoros Papakaliatis não nega a origem quando o objetivo é mostrar que não existem barreiras para a vida e seus movimentos: o amor e as conexões a partir do aspectos em comum – ser humano, por exemplo. “Mundos Opostos” é o segundo longa-metragem do cineasta que é oriundo de séries de TV e versa sobre o amor fora dos chavões e clichês típicos do gênero, num contexto de uma Europa cheia de imigrantes e refugiados e de uma Grécia falida patinando entre negociações e execuções judiciais.

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Três histórias, três gerações e um viés, o do encantamento personificado no mito do Deus Eros trazido para o cotidiano de gente comum, na forma de relação que conhecemos, e cujas arestas, são realidades sociais, políticas, culturais e idiomáticas diferentes. Os jovens Daphne (Niki Vakali) e Farris (Tawfeek Barhom): ela grega e estudante de política, ele refugiado sírio; os maduros, Giorgios (Christopher Papakaliatis) e Elise (Andrea Osvárt): ele chefe do departamento de uma empresa de Marketing, ela auditora externa com missão de corte de custos; e por fim, os de meia idade, Sebastian (J.K Simons) e Maria (Maria Kavoyianni): ele historiador aposentado e ela uma dona de casa. Todos vivendo num país em crise econômica severa, crise política e instabilidade social e mergulhados em um movimento de xenofobia grave. Esses casais em seus contextos se apaixonam independente de suas diferenças e Papakaliatis versa sobre isso com a maior naturalidade possível, misturando aspectos reais da vida para falar do que os diferentes têm em comum: a capacidade de amar. E abre mão da plasticidade, do brilho e da purpurina tão comum em romances e traz gente com cara de gente, histórias com os dois pés no chão sem clichês e performances.

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O filme abocanhou o prêmio de melhor ator para Minas Hatzisavvas da Academia Helênica de filmes. Minas interpreta o xenófobo Antonis que organiza um massacre de imigrantes e refugiados. A maestria do longa é mostrar as lógicas de cada lado e mostrar o quanto cada um tem razão sob a ótica de seu ponto de vista. E o quanto essas dicotomias compõem esse caos sem explicação. O filme traz ainda referências cinematográficas clássicas como “O Mágico de Oz” (1939) em que os personagens buscam coragem, um coração (amor) e um cérebro (inteligência) com Dorothy, uma estrangeira em terra mágica; e “Metrópolis” (1927) de Fritz Lang, que critica a hierarquia imposta por uma elite de poder sobre trabalhadores subterrâneos. “Mundos Opostos” é um filme inteligente, cheio de camadas e signos importantes costurado pelo que temos de nobre na condição humana: o amor, o encantamento.

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Tecnicamente o filme tem no elenco o oscarizado J.K Simons por “Whiplash” (2014), uma música tocante que se mistura a história e passa despercebida – dizem que essa é  maestria da trilha sonora – assinada por Kostas Christides, presente em departamento de musica de filmes como: “O Homem Aranha 3” (2007) e “A Senha: Swordfish” (2001). E a edição é feita por uma mulher Stella Fillippopoulou, conhecida por produções locais. “Mundos Opostos” de forma sutil iça a cultura grega a uma importância cabal mesmo nos dias de hoje, quando usa o  método aristotélico para contar a história partindo das partes para o todo e não deixa de lembrar que a cultura grega tem na figura do amor não um tema ou um assunto, mas um deus (Eros).

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Como diz o velho ditado popular: “Quem sai aos seus não degenera” e Christopher Papakaliatis prova isso quando faz essa mistura gostosa de várias culturas, das diferenças humanas e suas intercessões. Quando mistura a nobreza do amor à lama da existência humana. “Mundos Opostos” é filme para além de simplesmente assistir e pensar, é para ser sentido. Vale o ingresso!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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