Nahid: Amor e Liberdade

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Nahid: Amor e Liberdade

Por | 2016-08-10T03:28:40-03:00 10 de agosto de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Nahid: Amor e Liberdade (Nahid) (Drama); Elenco: Sareh Bayat, Pejman Bazeghi, Melad HosseinPour, Navid Mohammadzadeh; Direção: Ida Panahandeh; Iran, 2015. 105 min.

Produção iraniana que abocanhou prêmios festivais  afora “Nahid: Amor e Liberdade” é dirigido por uma mulher na terra de Hassan Rohani.  E meio a alguns cineastas proeminentes do país, por exemplo: Jafar Panahi de “Taxi Teerã” (2015), Ida Panahandeh fez bonito em seu segundo longa-metragem e levou o prêmio de melhor diretora no Bratislava International Film Festival 2015 e o premio  Avenir de Un Certain Regard.

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O filme faz um recorte de tempo na vida de Nahid (Sareh Bayat) – o do acordo feito com o ex-marido, Ahmad (Navi Mohammadzadeh) para manter a guarda do filho, Amir Reza (Melad RosseinPour) –  e nesse contexto o filme mostra como uma mulher sozinha é vista na cultura iraniana, como se consolidam esses valores na criação dos meninos e como as próprias mulheres chancelam esse modo subserviente de viver através do armistício. Mas mostra também o contra-ponto: as táticas para burlar a ordem vigente, a solidariedade entre elas, mostra que existem homens que pensam diferente e as possibilidades de acordos legais que possibilitam a mobilidade dessa realidade dura que vai de encontro às necessidades da natureza humana, a de amar e ser feliz. E mais, mostra a fraqueza humana para além dos costumes envernizados  e desconstrói o lugar de perfeição do homem (gênero)- Ahmad  é um viciado em drogas.

Nahid

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Nahid quando se separou de Ahmad concordou em ficar com a guarda do filho abrindo mão do patrimônio e de um futuro casamento. Porém, conhece Massoud (Pejman Bazeghi) que tem outra forma de pensar e de ver o mundo e acabam se envolvendo em segredo. Quando decidem oficializar a relação, para que Nahid não perca a guarda do filho, eles providenciam um casamento temporário renovável mensalmente. Nesse contexto as idas e vindas de Nahid para dar conta de sua vida dupla traz questões para se pensar sobre o que, no âmbito do humano, está para além das rédeas dos costumes culturais,  sobre aquilo que escapa ao controle.

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Ida Panahandeh mantém os costumes muçulmanos quando não filma a intimidade do casal, quando insinua serem um casal por conversarem a sós. Ida mostra  a atuação do amor entre Massoud e Nahid como desejo mútuo e não como acordo de necessidade ou convenção e pontua as inseguranças  e o medo de Nahid.  A cineasta usa este argumento para traçar táticas que desconstroem todo um arcabouço de hierarquia entre homens e mulheres, e ainda, desenha um mosaico familiar de como tudo isso se cria. Da mesma forma que em “O Julgamento de Viviane Amsalem” (2014) de Ronit Elkabetz – também dirigido por uma mulher e produção israelense –  aborda como tema principal  o casamento “Nahid” ( no original)  foca na instituição e  no que acontece depois da separação consumada. Mas o papel da família também é alvo do mosaico de Panahandeh , assim como em “A Fonte das Mulheres” (2011) de Radu Mihaileanu e “A Segunda Esposa” (2012) de Umut Dag. O cinema que retrata a cultura dos países do Oriente Médio, em geral tem sido tática para questionar aspectos que engessam a vida nos costumes daquelas culturas e”Nahid: Amor e liberdade” não foge a essa regra. E de alguma forma dá uma boa solução para o enredo.

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Escrito a quatro mãos por Ida Panahandeh e Arsalam Amiri de “The Story Davood and The Dove” (2011) a história é meticulosa e sensível. E as atuações, em especial a de Navid Mohammadzadeh e a fotografia de Morteza Ghedi dão o tom artístico do filme. Por conta disso, Navid levou o prêmio de melhor ator do festival Bratislava e Morteza o prêmio de menção especial no Brothers Manaki.

Nahid

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“Nahid: Amor e Liberdade” é um painel das amarras da alma de uma mulher que personifica, em maior ou menor grau, todas as mulheres no que diz respeito ao exercício de suas subjetividades. Para quem gosta de filmes ambientados no contexto da cultura árabe questionando os costumes por um lado e respeitando aqueles que caracterizam sua identidade no mundo por outro, e fazendo uma triagem do louvável e do mutável é uma boa pedida.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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