Neruda

Por | 2016-12-21T08:34:19-03:00 21 de dezembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Neruda (Biografia/Drama); Elenco: Gael Garcia bernal, Luis Gnecco, Mercedes Morán; Direção: Pablo Larraín; Chile/Argentina/França/Espanha, 2016. 107 Min.

Com a chamada ‘esqueça tudo o que você já sabe’ “Neruda” de Pablo Larraín dá uma dica de por quais caminhos  sua narrativa vai passar. E ela vai pela ficção, pelo processo de criação de uma obra, de uma personagem e pelo poder de penetração da palavra ‘desdicionarizada ‘ – a poesia- na alma do indivíduo. E dessa vez Larraín se superou no quesito subjetividade. Pisando no mesmo chão que é seu costume, os fatos históricos do Chile, o cineasta versa sobre a perseguição sofrida por Pablo Neruda em 1948 ( a caça às bruxas do Chile) em que fôra protegido pelo Partido Comunista numa fuga sensacional pelo território chileno até a  Argentina. A grande graça da narrativa é que a personagem principal é o perseguidor de Neruda, o então, Chefe de Polícia Oscar Peluchonneau. Numa história fictícia a partir de personagens reais Guilhermo Calderón ( roteirista) e Pablo Larraín mostram o processo de osmose da poesia de Neruda na vida de Peluchonneau e a influência deste na poesia do prêmio Nobel chileno.

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Pablo Neruda (Luis Gnecco), então senador do Chile, na época do governo de Gabriel Gonzales Videla, vê-se perseguido por ser comunista e precisa sair do país. No seu encalço está Oscar Peluchonneau (Gael Garcia Bernal), que à medida que persegue Neruda se aproxima de sua poesia.O filme faz uma competição de textos extraordinária. De um lado a poesia de Neruda, com textos conhecidos de sua obra. De outro a narrativa em off de Peluchonneau, numa brincadeira gostosa de cumplicidade. Neruda não teria produzido alguns textos sem a pressão da perseguição do Chefe de Polícia. E este, possivelmente, não seria conhecido se não fosse perseguidor de Neruda. os dois se completam numa saga literário-cinematográfica  muito bem construída.

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Não é a primeira vez que Neruda é personagem de filmes. Em 1994, dirigido por Michael Radford, “O Carteiro e o Poeta” contou uma parte da história de Neruda, sua passagem por Isa Negra, que foi transposta para a Itália (lugar onde o poeta se exilou). Em “Neruda” (2014) de Manoel Basoalto, o caminho narrativo é o histórico: a fuga e toda a sua dificuldade. O Neruda de Larraín é poético e levemente cômico. Com uma vibe de inspetor Closeau o longa mostra um Neruda em plena produção literária e vívido. O filme foi escolhido para ser representante do Chile na corrida ao Oscar 2017. Infelizmente não está na listra de pré-finalistas mas,  foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.

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Pablo Larraín é conhecido por suas narrativas históricas voltadas para os aspectos políticos de seu país. Seu trabalho mais proeminente é “No” (2012) em que aborda o plebiscito para decidir sobre a continuação do regime político de Augusto Pinochet em 1988. Seu último trabalho foi “O Clube” (2015) que foge dessa linha, mas faz questionamentos sobre poder e justiça no território da Igreja Católica (sempre polêmico), com “Neruda” volta ao contexto histórico mas desconstrói o poeta como vítima de uma perseguição e põe o perseguidor a viver um misto de exercício de poder e admiração. A Música do argentino Frederico Jusid de “Kóblic” (2016) e a fotografia de Sérgio Armstrong de “Pos Mortem” (2010) fecham redondinho essa história hilária de uma perseguição séria, mas que tem ares de “A Pantera Cor de Rosa”.

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“Neruda” de Pablo Larraín é poético, é cômico e mostra os múltiplos aspectos da poesia de Neruda nos intervalos da brincadeira de gato e rato entre Oscar Pelochunneau e Pablo Neruda.  “Neruda” é uma ode ao poder da poesia. Um Primor!

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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