Neruda (Biografia/Drama); Elenco: Gael Garcia bernal, Luis Gnecco, Mercedes Morán; Direção: Pablo Larraín; Chile/Argentina/França/Espanha, 2016. 107 Min.
Com a chamada ‘esqueça tudo o que você já sabe’ “Neruda” de Pablo Larraín dá uma dica de por quais caminhos sua narrativa vai passar. E ela vai pela ficção, pelo processo de criação de uma obra, de uma personagem e pelo poder de penetração da palavra ‘desdicionarizada ‘ – a poesia- na alma do indivíduo. E dessa vez Larraín se superou no quesito subjetividade. Pisando no mesmo chão que é seu costume, os fatos históricos do Chile, o cineasta versa sobre a perseguição sofrida por Pablo Neruda em 1948 ( a caça às bruxas do Chile) em que fôra protegido pelo Partido Comunista numa fuga sensacional pelo território chileno até a Argentina. A grande graça da narrativa é que a personagem principal é o perseguidor de Neruda, o então, Chefe de Polícia Oscar Peluchonneau. Numa história fictícia a partir de personagens reais Guilhermo Calderón ( roteirista) e Pablo Larraín mostram o processo de osmose da poesia de Neruda na vida de Peluchonneau e a influência deste na poesia do prêmio Nobel chileno.
Pablo Neruda (Luis Gnecco), então senador do Chile, na época do governo de Gabriel Gonzales Videla, vê-se perseguido por ser comunista e precisa sair do país. No seu encalço está Oscar Peluchonneau (Gael Garcia Bernal), que à medida que persegue Neruda se aproxima de sua poesia.O filme faz uma competição de textos extraordinária. De um lado a poesia de Neruda, com textos conhecidos de sua obra. De outro a narrativa em off de Peluchonneau, numa brincadeira gostosa de cumplicidade. Neruda não teria produzido alguns textos sem a pressão da perseguição do Chefe de Polícia. E este, possivelmente, não seria conhecido se não fosse perseguidor de Neruda. os dois se completam numa saga literário-cinematográfica muito bem construída.
Não é a primeira vez que Neruda é personagem de filmes. Em 1994, dirigido por Michael Radford, “O Carteiro e o Poeta” contou uma parte da história de Neruda, sua passagem por Isa Negra, que foi transposta para a Itália (lugar onde o poeta se exilou). Em “Neruda” (2014) de Manoel Basoalto, o caminho narrativo é o histórico: a fuga e toda a sua dificuldade. O Neruda de Larraín é poético e levemente cômico. Com uma vibe de inspetor Closeau o longa mostra um Neruda em plena produção literária e vívido. O filme foi escolhido para ser representante do Chile na corrida ao Oscar 2017. Infelizmente não está na listra de pré-finalistas mas, foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
Pablo Larraín é conhecido por suas narrativas históricas voltadas para os aspectos políticos de seu país. Seu trabalho mais proeminente é “No” (2012) em que aborda o plebiscito para decidir sobre a continuação do regime político de Augusto Pinochet em 1988. Seu último trabalho foi “O Clube” (2015) que foge dessa linha, mas faz questionamentos sobre poder e justiça no território da Igreja Católica (sempre polêmico), com “Neruda” volta ao contexto histórico mas desconstrói o poeta como vítima de uma perseguição e põe o perseguidor a viver um misto de exercício de poder e admiração. A Música do argentino Frederico Jusid de “Kóblic” (2016) e a fotografia de Sérgio Armstrong de “Pos Mortem” (2010) fecham redondinho essa história hilária de uma perseguição séria, mas que tem ares de “A Pantera Cor de Rosa”.
“Neruda” de Pablo Larraín é poético, é cômico e mostra os múltiplos aspectos da poesia de Neruda nos intervalos da brincadeira de gato e rato entre Oscar Pelochunneau e Pablo Neruda. “Neruda” é uma ode ao poder da poesia. Um Primor!
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