Neruda

Por | 2015-07-09T05:23:49-03:00 9 de julho de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Neruda (Neruda). (Ação/Drama/História); Elenco: José Secall, Catalina Saavedra, Max Corvalán, Nelson Brodt, Sérgio Madrid; Direção: Manuel Basoalto; Chile, 2014. 100Min.

“Para mim a política, a poesia e a vida são a mesma coisa”

(Pablo Neruda)

Depois de “O Carteiro e o Poeta” (1994) de Michael Radford em que se conta uma passagem de exílio na vida Pablo Neruda, na década de 50. Em que sua poesia influencia a vida do homem que lhe entrega as correspondências,  chegou a vez de “Neruda” de Manuel Basoalto, que versa sobre um episódio muito pouco conhecido da vida do poeta: sua fuga da polícia política do Chile, em 1949, pela cordilheira dos Andes e o processo de escrita de uma de suas obras mais importantes, “Canto Geral”.

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Sob o Pseudônimo de Pablo Neruda, Neftali Ricardo Reyes Basoalto (1904-1973), foi pedagogo de formação, diplomata, político, poeta e Nobel de literatura de 1971. É considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana. De nacionalidade chilena, Pablo Neruda foi cidadão do mundo não só por suas andanças como cônsul como pela abrangência de sua obra. “Neruda” de Manuel Basoalto  baseou-se na compilação de fatos esboçados no livro de José Miguel Varas  “Neruda: Clandestino”. O longa tem recortes de registros reais, como o discurso de recebimento do Prêmio Nobel, e outros, encenados, como o discurso que Pablo Neruda (José Secall), então senador do Chile, fez contra, o então presidente da república, Gabriel González Videla (Max Corvalán).  E relata sua perseguição e fuga pelas cordilheiras do Andes pelo sul do Chile para a Argentina (1949). Tudo isso pontuado pelo processo de escrita de “Canto Geral”, uma ode aos esquecidos da América Latina.

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O longa mostra um Neruda fugitivo e clandestino entremeado por suas lembranças de infância e juventude banhados em sua poesia e com as lentes de sua forma de ver o mundo através de suas narrativas. “Neruda” passeia por momentos da História de Chile, viaja por seus costumes e cultura, mas não se propõe a ser um documentário. A remetência é ao longa “Trem Noturno para Lisboa” (2013) de Billie August, no qual se viaja pelo poder da literatura de um escritor português – Amadeu –  perseguido pela ditadura de Salazar, cujo poder de encanto de sua figura e de sua escrita tira um professor de linguística de seu lugar comum e o leva a empreender uma saga para conhecer o mundo através dos olhos do escritor. “Neruda” tem esse approach, nos leva a conhecer o mundo através dos olhos de Neruda e de sua poesia.

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Sobre os aspectos técnicos, a equipe de filmagens fez o mesmo caminho que Neruda trilhou, na mesma época do ano, enfrentando as mesmas intempéries climáticas. Artisticamente se esmerou para imprimir a alma de Neruda à película, através da trilha sonora assinada por Ruan Cristóbal Meza, juntamente com a orquestra sinfônica de Bratislava (Eslováquia), que é especialista em música para cinema. E que têm no currículo trabalhos com compositores de peso como Hanz Zimmer de “Homem de Aço”,  fizeram, também a trilha sonora de “Oldboy: Dias de Vingança” (2013) de Spike Lee, entre outros. Cristóbal Meza buscou compor e usar melodias e  ritmos associados à poesia de Pablo Neruda potencializando a linha de abordagem escolhida. Quanto a fotografia soberba é assinada por German Uñeros, um marinheiro de primeira viagem com uma baita sorte de principiante. O filme conta ainda com participação, no elenco, de Catalina Saavedra, a costureira, numa cena, que nos rende momentos muito engraçados e cotidianos; conhecida por ” A Criada” (2009) premiadíssimo em festivais mundo afora, da Transilvânia a Miami. E José Secall, ator de séries da TV chilena que está divino como Pablo Neruda.

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“Neruda” foi dirigido pelo sobrinho do escritor e faz uma radiografia da alma de um homem com grande capacidade de conexão com o mundo e seus aspectos diversos, e que sintetizava tudo isso na poesia. “Neruda” é uma homenagem ao poeta latino-americano, à sua coragem e apreço pela vida. Serve também como manutenção de memória da História do Chile e uma revirada no baú de poesias de Neruda, trazendo à tona um grande nome da literatura universal quarenta e dois anos depois de sua morte.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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