No Coração do Mar

No Coração do Mar

Por | 2018-06-17T00:14:01-03:00 5 de dezembro de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

No Coração do Mar (In the Heart of the Sea). (Ação/Aventura/Biografia); Elenco: Chris Hemsworth, Ben Whishaw, Cillian Murphy, Brendan Gleeson; Direção: Ron Howard; USA, 2015. 121 Min.

O mais recente trabalho do oscarizado Ron Howard é “No Coração do Mar”, baseado no livro:  In the Heart of the Sea – The Tragedy of the Whaleship Essex do historiador americano Nathaniel Philbrick, que conta a história real de um naufrágio ocorrido em novembro de 1820 no Oceano Pacífico e que deixou os sobreviventes à deriva até o resgate em fevereiro de 1821. O caminho escolhido pelos roteristas para reviver a tragédia na telona foi a analogia entre a natureza humana e a natureza animal, essa, rotulada como selvagem, através do registro do processo de escrita do romance “A Baleia” (1851) de Herman Melville (1819-1891), e que mais tarde seria batizado de Moby Dick.

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A narrativa oral de Thomas Nickerson (Tom Holand/Brendan Gleeson) sobre o naufrágio do navio americano para Herman Melville (Ben Whishaw) é o eixo condutor da história. Thomas Nickerson (Brendan Gleeson) depois de ser convencido a falar sobre os horrores pelos quais passaram aqueles homens, e as atrocidades que sofreram e que praticaram, revive décadas depois o acontecido e usa a experiência como uma catarse, já que nunca houvera se pronunciado a respeito. Owen Chase (Chris Hemsworth) é o primeiro oficial do Essex de Nantucket, Massachusetts, que tem como capitão George Pollard (Benjamim Walker), que sem muita prática no comando de embarcações, comete todos os erros possíveis. Dentre eles, caçar a imensa baleia branca, um cachalote de toneladas com quase quarenta metros de comprimento, que veio a afundar o navio após ser arpada, e passou a vigiar a tripulação à deriva. O destaque, no longa, é a cena da troca de olhares entre Owen e  a baleia, dentre tantas outras espetaculares.

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O filme inteiro é essa narrativa oral, pontuada por Melville. E a ênfase que Ron Howard e os roteiristas: Charles Leavitt de”O Sétimo Filho”(2014); Rick Jaffa e Amanda Silver ambos de “Jurassic Park” (2015) e “Planeta dos Macacos” (2014), quiseram dar é a da atrocidade humana, da nossa vocação para a vilania, a exponencialização do nosso talento para a dizimação em tempos de sustentabilidade e defesa do meio ambiente, e a capacidade humana de surpreender com sua frieza e manipulação da realidade.

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“No Coração do Mar” faz uma releitura de Moby Dick, a baleia vingativa e poderosa, super potencializada ao máximo com o uso do CGI e do 3D. Taí um filme em que o uso dessas tecnologias fizeram toda a diferença na essência e no impacto da história. A galera responsável tem experiência na causa, os supervisores de arte Cristian Huband de “Matrix” – o marco dos efeitos especiais no cinema – e Niall Morony de “Sherlock Holmes”; além dos editores Daniel Hanley e Mike Hill ambos oscarizados por “Apollo 13” (1995). Esses são os meninos de ouro da versão cinematográfica de Moby Dick dois séculos depois. A trilha sonora do espanhol Roque de Baños, ganhador do Goya de melhor canção original por “Salomé” (2002), é um complemento indispensável na administração das emoções. Quanto a Ron Howard, oscarizado por “Uma Mente Brilhante” (2001), trabalhou bem a ênfase nessa dicotomia entre a natureza selvagem harmônica e a natureza humana malévola, de tal forma que torcemos ávidamente por Moby Dick. E ainda nos informa sobre a descoberta do petróleo, levando o homem destruidor (humanidade) a procurar óleo em outro lugar. Essa história a gente também já conhece bem.

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Porém, um aspecto que não passa despercebido, por chamar muita atenção e obviamente chamar público, é a perda assombrosa de massa muscular de Chris Hemsworth, para viver o personagem no período de mais de 90 dias à deriva. Outros atores já fizeram o mesmo: Tom Hanks em “Filadelfia” (1993) e “O Náufrago” (2000) e Christian Bale em “O Operário” (2004). Isso não influencia na atuação e no talento do indivíduo, só diz o quanto ele está comprometido com o papel e o tamanho de sua dedicação ou loucura. Mas vale a citação.

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“In the Heart of the Sea” (no original) é uma superprodução em tecnologia, direção de arte e abordagem. Faz bem aos olhos ver uma história bem contada, com um bom direcionamento e que fecha redondinha. Nos remete à  “Orca Baleia Assassina” (1977) de de Michael Anderson com o diferencial de ser uma ficção voltada para o suspense na linha “O Tubarão” (1975) e sem os usos das tecnologias que temos hoje e com outra pegada. O fato de se saber que “No Coração do Mar” é uma versão de uma história real dá outro up à história. O filme de Ron Howard é uma boa pedida para refletir sobre a natureza humana e repensarmos o conceito ‘selvagem’. Formidável!

O diretor Ron Howard

O diretor Ron Howard

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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