O Apartamento

O Apartamento

Por | 2018-06-17T00:46:18-03:00 5 de janeiro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Apartamento (Forushande/The Salesman/ Le Client) (Drama/Thriller); Elenco: Shahad Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi, Min Sadati; Direção: Asghar Farhadi; Irã/França, 2016. 125 Min.

Indicado ao Globo de Ouro de melhor Filme estrangeiro e, supreendentemente, constando na lista de pre-indicados ao Oscar 2017, o filme iraniano “O Apartamento” dirigido e roteirizado por Asghar Farhadi é um belo exemplo de crítica aos costumes da cultura iraniana, apresentada de forma sutil, passeando entre metáforas e usando duas linguagens: o teatro e o cinema.

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O cinema iraniano tem se destacado no cenário mundial, seus maiores expoentes são Abbas Kiarostami, Jafar Panahi e Mohsen Makhmalbaf.  Da nova leva de cineastas vem Asghar Farhadi um diretor com oito títulos lançados, dentre eles, “A Separação” (2011) e 78 premiações, dentre elas 1 Oscar. Agora é vez do longa-metragem “O Apartamento” (versão brasileira do título original Forushande) que já abocanhou prêmios importantes mundo afora: melhor roteiro no Festival de Cannes, Prêmio Especial do Juri no Festival de Chicago; melhor filme estrangeiro no Festival de Munique; O National Board of Review de melhor filme estrangeiro e o Prêmio do Público de melhor filme no World Cinema Amsterdã. Usando referências poderosas como “Vergonha” (1968) de Ingmar Bergman e “Babel” (2006) de Alejandro Iñarritu, o filme faz pensar, questionar  e abala a estrutura da lei do ‘olho por olho, dente por dente’.

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A história tem a seguinte estrutura: uma atriz de teatro, Rana (Taraned Alidoosti) e seu marido, Emad (Shahad Hosseini) são obrigados a sair às pressas do prédio onde moram, pois a estrutura está ruindo devido a novas construções. Alugam, então, um apartamento de um amigo do teatro, cuja inquilina ainda não retirou seus pertences. Um certo dia, Rana é visitada por um suposto conhecido da antiga inquilina e é agredida e violada. Rana desenvolve fobias, o fato desestrutura seu casamento e sua carreira profissional. Emad, então, resolve seguir a tradição,  procurar o agressor e tirar-lhe a honra. Humilha-lo diante de sua família e expor publicamente seu feito. É a partir desse viés de atuação no cotidiano daquele aldeãos que  a história toma corpo e sentido. E para a qual todas a metáforas inseridas passam a ter significação: o prédio que rui em meio a construções novas, o teatro com a encenação da peça “A Morte do Vendedor”e outras.

Salesman

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Asghar Farhadi em “O Apartamento” faz um passeio lento pelos costumes mais enraizados e vai mostrando o quanto são descontextualizados, não só do aspecto social moderno como da própria natureza humana, mesmo para um crime violento. Farhadi desenha um painel das fraquezas, da fortaleza e das mutações culturais humanas; do quanto tudo está em movimento, questionando os costumes milenares de punição e justiça com uma argumentação cotidiana, humana e acessível. Os destaques vão para atuação de Shahab Hosseini, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes e para a fotografia do experiente Hossein Jafarian, indicado ao Camerimage por “A Procura de Elly” (2009), cujo currículo conta,  ainda, com trabalhos com Kiarostami e Panahi.

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“O Apartamento” é um filme do Oriente Médio versando sobre seus costumes e assim deve ser visto. Como um questionamento das construções culturais de sua própria casa. Qualquer descontextualização/ocidentalização leva a outro lugar que não é aquele que Farhadi quiz estar ou se referir. O que o longa iraniano traz para nós é a percepção da beleza do movimento de mudança de uma cultura fechada em seu arcabouço milenar para o mundo inteiro assistir. Soberbo!

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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