O Círculo

O Círculo

Por | 2017-07-03T12:34:58-03:00 3 de julho de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Círculo (The Circle) (Drama/Ficção-Científica/Thriller); Elenco: Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Bill Paxton; Direção: James Ponsoldt; Emirados Árabes Unidos/EUA, 2017. 110 Min.

Uma das grandes vantagens do cinema em relação à literatura é o grande alcance e a imediatez com que isso acontece. Uma das desvantagens é a síntese forçada para caber num tempo regulamentar. Então, a competência do cineasta se estabelece aí, em conseguir transmitir o que quer dizer de maneira mais eficiente neste tempo regulamentar, usando essa linguagem aberta e sem blindagem que são as imagens. Possivelmente, nessa premissa se encaixa James Ponsoldt para o bem ou para o mal. Abordando o tema privacidade e o entendimento desse conceito por diferentes gerações, o diretor e roteirista conseguem dar uma outra vertente ao tema com uma abordagem futurista, sem muita precisão e de forma bem sutil. Mas, conseguem fazê-lo.

O tempo é o atual. O contexto: um grupo reservado de jovens voltados para a tecnologia, liderados por um mentor, Bailey (Tom Hanks), em relação à filosofia e ação. Nos assuntos de cunho político e legalidade, Stanton (Patton Oswalt), um congressista. Com um estilo de seita, bem ao jeito da cultura norte-americana e com cara de palestra TED, o grupo se aventura para provar que segredos não podem existir e que a conexão entre as pessoas não tem limites. Na história, uma atendente de telemarketing, Mae (Emma Watson), com uma família sem recursos e os pai com esclerose múltipla, é convidada por uma amiga a fazer uma entrevista  de trabalho no Círculo, a maior empresa norte americana. Aceita no emprego, Mae se sente desconfortável ao perceber o nível de invasão de privacidade. Mas, diferente da abordagem do Nolan na trilogia “Batman” em que existe o questionamento, e de “Nerve” onde os jogos se encerram, ou em “A Rede” em que se luta contra a ideia e se mostra seu risco, em “O Círculo” se propõe uma mudança no conceito contextualizando-o com as futuras gerações – aquelas que nasceram/nascerão sem saber o que é isso da forma com a qual conhecemos – e Ponsoldt é feliz na abordagem. Respeita a visão da geração conservadora, mostrando que todos pagam o preço por suas escolhas e postula que os preços pagos pelas novas gerações podem ser minimizados – acidentes podem evitados, pessoas se tornam mais éticas quando observadas, etc. – mostrando um outro lado, o do possível, futuro mundo.

Pudera, James Ponsoldt é jovem, tem outra cabeça, o cinema é um espaço livre e se alguém tem competência para abordar um assunto, por que não?! O cineasta é conhecido por “O Maravilhoso Agora” (2013). Sua abordagem foi inteligente, sutil e passou do chavão do questionamento dos ‘defeitos’ para uma visão positiva e inovadora – atenção para a leitura semiótica do cartaz de divulgação, da transparência dos ambientes, da ausência de muros externos ou divisórias separando os setores. Mexendo no cerne dos conceitos de privacidade e conexão, Ponsoldt conseguiu fazer uma boa adaptação do romance de ficção-científica de Dave Eggers numa produção dos Emirados Árabes Unidos ( é importante frizar) a parte de investimento americano na produção é minoritário.

Quanto aos chamarizes de público temos Tom Hanks, que dispensa apresentações, a do saudoso Bill Paxton (1955-2017) da série de TV bombástica “Big Love” com aparições diminutas, em relação a Emma Watson da franquia “Harry Potter” e de John Boyega, o rebelde wartrooper de “Star Wars: O Despertar da Força”. Os destaques técnicos ficaram com a trilha sonora e a fotografia. A trilha assinada por Danny Elfman, indicado a 4 oscars pelos filmes: “Gênio Indomável” (1997); “Homens de Preto” (1997); “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003) e “”Milk: A Voz da Igualdade” (2008), mexe com o emocional do espectador de forma com que ele faça a viagem pela transição do conceito de privacidade sem se sentir desconfortável. E a fotografia de Matthew Libatique de “Cisne Negro” (2010) vai na mesma linha, quando é o virtual que vem para o real.

Para encerrar, o olhar do cineasta com sua direção, orientação de posturas, olhares e ações entre os personagens,  é  quem fecha, junto com a edição, o que o filme quer dizer. O que dizer acerca do olhar filosófico/futurista de James Ponsoldt? Ousado! E de abordagem competente. Com uma história simples e batida que passa pelo Big Brother de George Orwell e pela vertente do reality show, sem polêmicas. Qualquer semelhança com um portal de pesquisa conhecido nosso, pode não ser mera coincidência. Bom, o moço!

 
 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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