O Dançarino do Deserto (Desert Dancer). (Biografia/Drama); Elenco: Reece Ritchie, Freida Pinto, Marama Corlett, Tom Cullen; Direção: Richard Raymond, Reino Unido, 2014. 98 Min.
“A arte existe porque a vida não basta”
(Ferreira Gullar)
Inspirado na história de vida do dançarino, coreógrafo, diretor e ator iraniano Afshin Ghaffarian, que fugiu do irã em 2009 durante o movimento verde – uma série de protestos que contestava o resultado da eleição presidencial que deu a vitória a Mahmoud Ahmadinejad – com uma companhia de teatro que iria participar de um festival de cultura iraniana fora do país. “O dançarino do deserto” nos conta a história de jovens universitários que se reuniam escondido para dançar nas horas vagas e que resolveram transformar a atividade em um espetáculo no deserto para um público selecionado, seus colegas.
O filme do estreante em longas Richard Raymond, roteirizado por Jon Croker de “A mulher de Preto 2: O anjo da morte” nos remete ao contexto de “118 dias” no sentido da busca da liberdade e da subversão de uma ordem estabelecida. Isso não seria nada extraordinário, se levarmos em consideração os relatos e registros fílmicos de fugas civis de regimes totalitaristas, se não fosse pelo caminho escolhido para versar sobre essa história, a dança. A saga de dor e opressão é contada pelo corpo em movimento, nos ensaios e na apresentação do deserto, que é um filme à parte. Os diálogos existem, mas grande parte do tempo a trilha sonora é quem embala um corpo que fala. E o faz de uma forma que, talvez, as palavras não dessem conta. Sob esse aspectos nos remete a “Bodas de Sangue” de Carlos Saura, em que o corpo é a voz da narrativa e, nesse, não existem diálogos, os movimentos as expressões, toda a história é contada na linguagem universal, a do corpo.
“O dançarino do Deserto” tem uma fotografia espetacular, indicada ao Sapo de Ouro do Camerimage 2014. Os destaques mais proeminentes ficaram com Freida Pinto de “Quem quer ser um milionário?” pelo qual foi indicada ao BAFTA 2009, e Reece Ritchie de “Príncipe da Pérsia: Areias do tempo” (2010) que interpretam dois bailarinos com uma expressão corporal intensa e contundente. A trilha sonora é pano de fundo desenhado por Benjamim Wallfisch de “12 anos de escravidão”. E juntos fazem da película uma obra de arte.
Em suma, a cinebiografia que conta a história da juventude e fuga de Afshin Ghaffarian do irã do islamismo é um casamento belíssimo entre a arte da dança e a arte cinematográfica, dizendo com muito mais precisão e veracidade sobre a importância da liberdade, do que se fossem somente com palavras. “O Dançarino do Deserto” é uma obra de arte com um tempero político.
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