O Destino de Uma Nação (Darkest Hour) (Biografia/Drama/História); Elenco: Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelson, Lily James, Ronald Pickup, Sthephen Lillane; Direção: Joe Wright; Reino Unido, 2017. 125 Min.
Depois do genérico/cult “Churchill” (2017) com Brian Cox, que se reporta, na História, às decisões de Winston Churchill sobre a invasão à Normandia (Dia D) na Segunda Guerra Mundial, e de cunho mais pessoal; entra em cartaz o de marca/fashion com estrelas de primeira grandeza, como Gary Oldman, numa produção esmerilhada e cara e, mais político do que pessoal. Em “O Destino de Uma Nação” o evento da Segunda Guerra, coberto pela narrativa cinematográfica é a Operação Dynamo, magistralmente abordada por Christopher Nolan em “Dunkirk”. A abordagem é política e o viés são os discursos, as retóricas, a arte da persuasão. O jogo de xadrez de argumentos do mundo da diplomacia e que, aqui é abordado com requintes de detalhes.
O start de apresentação do político Winston Churchill (Gary Oldman) é a sua eleição pelo parlamento inglês para o cargo de Primeiro-Ministro britânico em plena guerra. A partir daí se desenvolve todo um mosaico das forças políticas em embate e defesa de seus interesses daquele contexto, naquela época. O mote é a retirada do exército britânico da costa do Norte da França com todos os engendramentos de retórica das questões envolvidas. A característica do roteiro é a profundidade. É de se admirar o quanto os diálogos são procedentes, inteligentes e contextualizados. O filme é um compêndio dialogal, um desfile de discursos muito bem costurados. O roteirista Anthony McCarten de “A Teoria de Tudo” (2014) fez um trabalho primoroso tornando o filme uma aula respeitável de História. O roteiro faz uma radiografia inteligente da raposa política que foi Churchill e é cheio das tiradas irônicas e inteligentes no estilo do Ex-Primeiro Ministro inglês, algumas reais.
Em relação à produção é um primor, o designer de produção é assinado por Sara Greenwood, afeita a filmes de época como “Sherlock Holmes”(2011/2009); Anna Karenina” (2012) e fez um trabalho admirável com a escolha dos modelos de móveis, carros da época. A direção de arte é outro aspecto que completa o filme nos dando cenários como a sala de audiência do Rei George VI e o parlamento inglês muito detalhistas e, essa é assinada por Nick Gottschalk de “Alice Através do Espelho” (2016). . Em relação à trilha sonora, que passa despercebida, o que é um trunfo para uma trilha, se imiscuindo na história e transmitindo dela as emoções, é composta pelo italiano Dario Marinelli de “V de Vingança” (2005). Tem, também, uma fotografia lúgubre assinada pelo francês Bruno Delbonnel de “Grandes Olhos” (2014) que conbina com o estilo da argumetação e com o momento sombrio abordado pela obra. Mas, a maquiagem foi o item de produção mais proeminente, depois da atuação de Gary Oldman. O quarteto responsável por essa façanha são especialistas em próteses faciais e maquiagens de efeitos especiais: Diana Choi especialista em perucas e que fez parte da equipe de “Os Oito Odiados” (2015); Lucy Sibbick e Kazuhiro Tsuji são especialistas em próteses faciais; ela, fez parte da equipe de “Drácula: A História Nunca Contada” ( 2014) e, ele, da equipe de “O Curioso Caso de Benjamim Button” (2008) , para finalizar o David Malinowski da equipe de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (2016). Todos fizeram um excelente trabalho em Gary Oldman e por tal estão os quatro indicados ao BAFTA ( o Oscar Inglês). Tudo isso esteve sob a batuta de Joe Wright de “Orgulho & Preconceito” (2005) e “Desejo & Reparação” (2007).
Agora, temos que abrir um parênteses para falar de Gary Oldman, esse inglês de 60 anos que tem uma carreira profícua (92 atuações) no cinema, fora o teatro, e que sempre fez papéis secundários, mesmo que de relevância, como o comissário Gordon na trilogia Batman do Nolan. E que, agora, desponta como um possível candidato ao Oscar pela segunda vez ( a primeira foi por “O Espião que Sabia Demais”/2011) e, quiçá, favorito. A história de Gary Oldman se assemelha um pouco com a de J. K. Simmons, outro grande ator de papeis secundários e que ao interpretar o Professor Fletcher de “Whiplash: Em Busca da Perfeição” (2014) teve a oportunidade de usar todo o seu talento num mesmo lugar e momento de forma magistral, o que lhe rendeu um reconhecimento que antes não havia e, óbvio, prêmios e valorização da carreira. Aparentemente, o mesmo acontece com Gary Oldman, a sua interpretação de Winston Churchill em “O Destino de Uma Nação” é de uma primorosidade e competência avassaladoras, o que já lhe rendeu um globo de ouro e prêmios das associações de críticos de Washington, St. Louis, Phoenix, Palm Springs, Críticos Online, Oklahoma, Texas, Carolina do Norte, New York, Nevada, Iowa, Dallas e, por aí vai. O crème de la crème de “O Destino de Uma Nação” é Gary Oldman.
“Darkest Hour” (no original), possivelmente, é um candidato ao Oscar na categoria principal. Só no BAFTA tem nove indicações. É um filme que pede uma atenção mais acurada por conta dos diálogos e escolhe público. É para quem tem, em suas redes de significação, algum conhecimento e interesse em História. “O Destino de Uma Nação” nos mostra que o cinema vai para além do entretenimento. Citando casos que se encaixam no mesmo contexto de argumentação: “Viva a França!” (2016) é um excelente exemplo, “Diplomacia” (2014) é outro. Quem diria que um dia, o cinema, que foi considerado artigo de feira e para iletrados um dia iria ter esta potência, a de ágora, a de espaço de propagação de conhecimento sistematizado de forma lúdica e, tornado interessante. Hoje, o cinema não só entretém como é um personagem conceitual (Deleuze) no fomento à reflexão. “O Destino de Uma Nação” conta os bastidores da Operação Dynamo, em outras palavras, é um aulão de História que não é só para inglês ver, é para todos os interessados. Magnífico!
Deixar Um Comentário